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N° 49 : “EU SOU DELE, E ELE É MEU”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 18 de Março de 2012

Não faz muito tempo, um aluno (hoje, "ex") me pediu para redigir um artigo, para o jornalzinho que ele ajudava a editar, sobre um personagem de quem falei nas aulas de Apologética Cristã. Blaise Pascal (Paris, 1623-1662) foi um personagem singular da história ("O coração tem razões que a própria razão desconhece" – lembra disto?). Por um lado, um verdadeiro luminar científico: seu nome e parte de sua "ciência" se me tornaram familiares desde os primeiros anos ginasiais, com os estudos da Aritmética, até aos anos um pouco mais avançados dos estudos da Física e das probabilidades estatísticas. Por outro lado, um homem humilde, que passou por várias lutas e sofrimentos em vida. Perdeu a mãe aos três anos de idade, o pai aos vinte e oito, enfrentou a pobreza e a enfermidade grave, que lhe tirou a vida, por assim dizer. Aliás, uma vida, digamos, "curta", pois limitou-se a 39 anos e alguns meses mais.

   Pouco depois dos 30 anos de idade, passou pelo que ele mesmo considerou a "conversão" da sua alma e existência. Re-descobriu os postulados teológicos de Agostinho de Hipona, e abraçou-os. Não poucos têm identificado o pensamento de Pascal com o de Calvino, embora eu mesmo não saiba de evidências de que o primeiro tenha lido o último. Assim, embora sendo poucos os anos de sua vida, teve tempo suficiente para ser um dos mais agudos homens da Ciência, e meditar profundamente também nas verdades eternas. Diz-se que ainda pequeno teve uma experiência curiosa com seu pai. Pascal tinha saído para uma cavalgada. Num dado momento, na empolgação do passeio, seu cavalo se desequilibrou, a cela se desprendeu, e Pascal foi ao chão. Quase sem tempo para se levantar viu quando o cavalo já caía por sobre ele, o que não aconteceu por um triz. Ao chegar em casa, depois da assustadora experiência, foi logo ao encontro de Etienne, seu pai, para contar-lhe ofegante:

– Pai, não imagina o que me ocorreu – em minha cavalgada, hoje, eu caí, o cavalo caiu, mas Deus foi tão bom que impediu que ele caísse por cima de mim; me esmagaria, se acontecesse. O pai, que àquela altura era figura do lar que supria também a ausência da mãe, o trouxe para bem perto de si e disse:

– Filho, eu também tenho uma história para contar, e é da minha cavalgada também, quando voltava da cidade.

   O pequeno Pascal esperava uma coincidência na história a ouvir… – Imagina – continuou o pai – que fiz também uma outra longa cavalgada, cheguei em casa são e salvo, e meu cavalo em nenhum momento nem mesmo tropeçou; Deus não foi ainda mais bondoso comigo? Pascal experimentou algo que se poderia chamar de "providência visível" de Deus; seu pai experimentou algo que se poderia chamar de "providência invisível". Mas a verdade é que, tanto num caso semelhante ao primeiro quanto noutro semelhante ao segundo, só a boa mão do Criador, o Providente, pode garantir um final seguro e bom êxito de chegada.

   Não é assim a nossa vida? Damos certo valor aos "eventos", principalmente aqueles que parecem traduzir um tipo de "intervenção divina", quando os fatos parecem demandá-los. Mas, quando nenhum fato inusitado aparece para "precisar" da intervenção divina, damo-nos por satisfeitos porque a vida parece seguir o seu curso; e ela nos parece ir seguindo, até que outro fato novo ocorra, empurrando-nos para o refúgio do Rochedo Forte. Com certa frequência, somos todos tentados a ter nosso pensamento a fluir como o dos deístas: O relógio recebeu corda; o resto é consequência.

   Não é verdade! Não devemos desprezar os dias dos humildes começos (Zacarias 4.10) ou os de céu nublado, como se fossem de menor importância para Deus em relação a nós. Todos os dias, todos os momentos, todas as circunstâncias, estão sob a mão do Todo-Poderoso (embora Ele envolva o concurso das nossas responsabilidades nisto). Quantos dias de ausência de "eventos importantes" nos serão necessários para perceber a boa mão do Senhor no transcurso desses mesmos dias? Ou será preciso o evento, quem sabe uma desdita, quem sabe uma prova de fé e dependência, para que o nosso coração e a nossa mente comprove (de novo) que Ele é o "nosso abrigo na tentação, na provação e em todo mal" – verdadeiro refúgio, ainda que na tribulação ?

   Seu Manual de Existência assim afirma: "Em paz me deito, e logo pego no sono, porque, Senhor, só Tu me fazes repousar seguro". (Salmo 4.8); e veja que, embora tenhamos o cuidado constante de verificar se as portas e janelas estão fechadas, não precisamos ficar, a cada noite, gastando tempo a pensar quantos assaltantes estão de fora (nem onde estão), perpetrando seus planos malignos.

O próprio Autor da Criação afirma que Deus "faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos". (Mateus 5.45), o que prova que Seus preciosos cuidados estão constantemente ao nosso dispor, sob os ocasionais "eventos" ou sob "a mesmice" dos dias. Mesmo assim, quando sobrevêm os eventos, Ele também está por perto, e os Seus ouvidos se dispõem a ouvir e a atender, segundo a Sua vontade.

   Um grupo de pagãos, que pensava ser obra do acaso (ou do destino fatal) o que acontece a cada dia, mesmo que corriqueiro, ouviu do apóstolo a verdade que permanece eterna: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo Ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração". (Atos 17.24-28.) Pouco notada é a força destas palavras, especialmente – pois nele nos movemos e existimos. É uma afirmação que complementa a outra – pois Ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais! Tudo mais !!  Não é menos verdade por ser pouco notada. Portanto, temos razões de sobras, com ou sem "eventos importantes", para junto Dele permanecer, porque sabemos que somos do Senhor, e Ele a nós também se dá a pertencer. É promessa: Javé Nissi – o Senhor é a minha bandeira…(Êxodo 17.15).

   O cântico já muitas vezes por nós cantado num passado recente (cuja autoria não consegui identificar), traz uma mensagem pertinente… Ele está numa versão ligeiramente modificada da mais usual…

 HOJE SOU FELIZ

Perdido foi que Cristo me encontrou
Neste mundo vil;
Salvou-me, no Seu sangue me lavou.
Hoje sou feliz!

Hoje sou feliz, foi-se o meu temor;
Vou permanecer junto ao Salvador;
Foi-se a escuridão, raia a luz do Céu,
Pois eu sei que sou do meu Senhor
E Ele é meu!

Se muitas tentações me sobrevêm,
Para Ele vou;
Recebo forças que do Céu me vêm
Se com Ele estou!

Se negra noite assustar-me vem,
Sinto Seu amor:
As trevas tornam-se em luz também,
Com meu Salvador!

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Bom domingo, boa semana a seguir!
Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana

ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional