Agora no portal:

Tag Archives: 23

N° 343 : “LEI ÁUREA”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 13 de Maio de 2018

130 anos se passaram. Foi em 13 de maio de 1888 que a princesa-regente brasileira, por nome de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança (isso mesmo: esse era seu nome completo) assinou a “Lei Áurea”. Com a lei, ficava definitivamente abolida, no Império do Brasil, toda forma de escravagismo.

A Princesa Isabel não foi inovadora. Seu pai, o Imperador Dom Pedro II, já vinha aprovando leis naquele rumo. Certamente que boa parte desse espírito abolicionista, no império, era patrocinado pelas forças liberais que acalentavam o afã republicano. Mas, qualquer investigação imparcial sobre a biografia de Dom Pedro II levaria à conclusão de que, mas hora menos hora, ele mesmo assinaria essa lei. O que a princesa fez, num período de viagem de seu pai à Europa, no qual assumiu o trono na forma de “princesa-regente”, ele mesmo faria.

A Lei dos “Sexagenários” (1885) já havia alforriado todos os escravos com idade mínima de 60 anos; a Lei do “Ventre Livre” já havia decretado o fim da sina escravagista aos nascidos de escravas; a Lei “Eusébio de Queiroz” (1950) já havia extinto o tráfico marítimo de escravos. Em 1867, Dom Pedro II angariou grande oposição de poderosos, ao pronunciar-se publicamente pela abolição; ele mesmo já havia tratado a questão como uma “grande vergonha nacional”. A princesa, em 13 de Maio, materializou em lei tendência inevitável.  

É bem verdade que a opção custou à família imperial a continuidade no trono: pouco mais de um ano adiante foi suficiente para instalar-se a república no país, com o banimento da família monárquica. Mas o mérito pelo legado da lei promulgada não foi creditado à república vigorou antes dela. Desde 13 de Maio de 1888, não há mais escravos (ao menos, legalmente).

Faço um paralelo e um contraste com outro fato do passado – este, incomparavelmente mais sublime. Por ele, também foi abolida escravidão, d’outra modalidade. O decreto soberano do Deus eterno, encaminhando à cruz Seu Unigênito Filho – então encarnado – aboliu em definitivo os efeitos da escravidão do “império da trevas”: Ele [Deus, o Pai] nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Colossenses 1.13,14, ARA).

Esta foi a ‘lei mais áurea’ de todas! “Áureo” vem do latim aurium, que identifica com o ouro a qualidade do ato, feito ou objeto. Deus, em Seu decreto eterno e atemporal, determinou que Seu Filho, Seu amado e unigênito Filho, fosse levantado naquela rude cruz, para nos resgatar da escravidão da morte.  

Imagine você nascendo escravo, de uma família de escravos, fadado a sofrer por toda a vida o regime, sem perspectiva alguma de usufruir da liberdade… Você vê pessoas à sua volta, muitos com liberdade de ir e vir, com liberdade de ser alguém, com a liberdade de ter… Mas você, não: é escravo! Sua única identificação é com outros escravos, todos sob a mesma sina. Você e seus companheiros de escravidão não podem escolher nem decidir onde ir… Não podem escolher o que fazer, nem com quem andar… Não podem escolher a hora de satisfazer aspirações pessoais… São todos escravos. Já imaginou?

Lembra-se de Castro Alves (1847-1871), que viveu apenas 24 anos?
              Albatroz!  Albatroz! águia do oceano,  
              Tu que dormes das nuvens entre as gazas,  
              Sacode as penas, Leviathan do espaço,  
              Albatroz!  Albatroz! Dá-me essas asas…
 

                        Do poema abolicionista “Navio Negreiro”, 1869…

Segundo a Escritura Divina, assim somos todos nós, antes de ser libertos por Cristo Jesus. Nascemos todos sob o domínio do império das trevas; vivemos sob a escravidão da morte e do pecado. Até que se aplica a nós a ‘Lei Áurea’! Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? (Oséias 13.14, ARA).

Por isto o apóstolo, antes escravo da morte e do hades, então liberto e feito livre em Cristo, no poder do evangelho, se regozija com estas palavras, em alegria maior do que a da multidão em frente o paço imperial, em 13 de maio de 1888, que celebrou com grande alarido e júbilo a abolição: “Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?  Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Coríntios 15.55-57, ARC).

É a alforria que está também ao nosso alcance – meu e seu! Graças a Deus, que nos dá a vitória! Alforria! Graças à ‘Suma Lei Áurea’!  

John Newton, antes capitão de navio negreiro, encontrou-se com Cristo, e foi – ele próprio – liberto da sua própria escravidão de morte. Sua composição, que atravessa séculos e continentes, é nossa mensagem musical final.

AMAZING GRACE (1779 – Maravilhosa Graça)
John Newton (1725-1807)

Amazing grace! How sweet the sound
Graça preciosa! Que doce som
That saved a wretch like me!
Que salvou um miserável como eu
I once was lost, but now I’m found
Estive perdido, mas agora fui encontrado
Was blind, but now I see!
Era cego, mas agora vejo!

'Twas grace that taught my heart to fear
Foi a graça que ensinou meu coração a temer
And grace my fears relieved
E a graça aliviou meus temores
How precious did that grace appear
Quão precioso foi ao advir-me aquela graça
The hour I first believed
A hora em que, no primeiro momento, cri

When we've been there ten thousand years
Quando lá estivermos por dez mil anos
Bright shining as the sun
Resplandecendo como o sol
We've no less days to sing God's praise
Teremos não menos dias para cantar louvores a Deus
Than when we first begun!
Do que quando lá [apenas] tivermos começado.

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional

N° 342 : “LOUCURA”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 06 de Maio de 2018

No entorno da padaria que há perto da minha casa vê-se, com freqüência, um cidadão que gosta de fazer discursos. Tem voz possante, costuma fazer seus discursos até quando ninguém está por perto, ou a dar-lhe a mínima atenção. Mas ele discursa mesmo sem ouvintes. Na maioria das vezes, ninguém entende o que ele está dizendo; de vez em quando, porém, percebe-se que está perorando contra a política, ou contra a própria humanidade… Ele não se importa… É coisa típica de seu estado mental perturbado.

Loucura é uma condição triste. Tempos atrás, eram até bizarros alguns métodos que se usava para tentar sua cura. Por exemplo, a trepanação: dá-se esse nome ao tratamento que se praticava perfurando a caixa craniana, para ‘aliviar’ o cérebro. Alguns médicos, no passado, já usaram aplicar um choque insulínico no paciente… Outros, injetando-lhe uma solução virótica, para provocar febre alta e convulsão… Para este último caso, algum sucesso, por incrível que pareça, já se conseguiu… Choques elétricos ainda hoje são utilizados…

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, meio bilhão de pessoas no mundo têm algum tipo e grau de transtorno mental. No Brasil, incluindo os graus mínimos e os mais complexos, estima-se que sejam cerca de 25 milhões.

O tradutor lusitano de um importante texto bíblico escolheu a palavra “loucura” para efetuar o contraste entre a cosmovisão do evangelho e a cosmovisão deste mundo, mesmo o mais douto e inundado de ciência. Preste atenção nos versos a seguir transcritos: 
Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (I Coríntios 1.18, ARA).
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (I Coríntios 1.21, ARA).
“…nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (I Coríntios 1.23, ARA).
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (I Coríntios 1.25, ARA).

A palavra usada pelo apóstolo, na língua grega, mostra que o mundo classifica o evangelho que os cristãos abraçam como algo insano, sem nexo, sem juízo – coisa tola… Por outro lado, considera seu conhecimento mundano e secular como a verdadeira sabedoria. Enquanto isso, Deus salva criaturas do lago de fogo da condenação eterna por meio dessa “loucura” – a palavra da cruz de Cristo! Nas mãos de Deus, essa pregação “louca” é o verdadeiro poder redentor.

No capítulo 2, verso 14, fica patenteado que essa “loucura” é algo incompreensível para o ser humano em seu estado natural, que é estado de pecado e morte. É loucura porque lhe falta o Espírito de Deus, para conferir entendimento, aceitação, discernimento.

Mais adiante, o apóstolo ironiza a sabedoria deste mundo: “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. E outra vez: o Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos” (I Coríntios 3.19,20, ARA).

Então, esta “loucura” que é crer e sustentar a missão redentiva cumprida por Jesus Cristo, pela qual ele assumiu a morte de cruz em caráter substitutivo, expiatório, é a verdadeira sabedoria; ao passo que a “sabedoria deste mundo”, a suposta esperteza dos sábios sem Deus, a presumida superioridade dos que se acham mais astutos no mundo, não passam de total loucura – essa, sim – aos olhos do Deus Todo-Poderoso, Reto Vingador. “Os néscios são mortos por seu desvio; aos loucos, a sua impressão de bem-estar os leva à perdição. Mas o que me der ouvidos [diz o Senhor, em Sua sabedoria] habitará seguro, tranqüilo e sem temor do mal” (Provérbios 1.32,33, ARA).

Que antagonismo confortador. Não estamos entre os mais aclamados no mundo, os mais sábios, os mais espertos, os mais reverenciados… Mas, ante o olhar de Deus, mesmo que os homens nos considerem loucos, pouco espertos ou nada sabidos, somos verdadeiros sábios. Não dá pra trocar – de jeito nenhum – essa loucura que nos salva por tanta sabedoria que leva ao inferno.

O hino de hoje é especialmente significante. O intérprete que canta a segunda estrofe tinha acabado de passar por duas sessões de tratamento radioterápico precisamente na garganta, na manhã que antecedeu aquele dia, bem como naquela própria manhã. Na verdade, vinha ele lutando com um câncer na garganta havia alguns anos. Pouco mais do que um ano adiante, esse câncer o levaria para junto do seu Senhor. Ouvi-lo dizer, em forma de canto, aquela parte da poesia de Ira Stamphill, em que afirma:

– Minha dor interior, eu ocultarei com um sorriso…
Eu esperarei pelas razões [divinas] até que chegue a hora
E, mesmo que ele me prove, sei que sempre descobrirei
Que o que Deus faz transforma os sofrimentos como o fogo transforma a prata, eliminando sua escória… 

Loucura, cantar tais palavras enfrentando um câncer de garganta… Loucura, para os incrédulos!

WE'LL TALK IT OVER (1949)
NÓS TRATAREMOS DISTO
Ira Forest Stamphill (1914-1993)

Though shadows deepen, and my heart bleeds,
Ainda que sombras se aprofundem, e meu coração sangre
I will not question the way He leads;
Não questionarei o modo como Ele conduz
This side of Heaven we know in part,
Daqui do lado de baixo do céu nós conhecemos em parte
I will not question a broken heart.
Não questionarei, se meu coração se quebranta.

Coro
We'll talk it over in the bye-and-bye.
Nós discutiremos o assunto num momento oportuno
We'll talk it over, my Lord and I.
Trataremos disto, meu Senhor e eu
I'll ask the reasons – He'll tell me why,
Eu pedirei os motivos – Ele me dará os porque's [se o quiser]
When we talk it over in the bye and bye.
Quando tratarmos do assunto, num momento oportuno. 

Danny Gaither:
I'll hide my heartache behind a smile
Eu ocultarei a minha dor interior por meio de um sorriso
And wait for reasons 'til after while.
E esperarei pelas razões até que chegue a hora
And though He try me, I know I'll find
E ainda que Ele me prove, eu sei que [sempre] descobrirei
That all my burdens are silver lined.
Que todas as minhas aflições são escritas em linhas de prata.

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional

N° 23 : “POR QUE’S”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 04 de Setembro de 2011

Nesta semana tive o privilégio de conhecer o Diogo Inawashiro. Diogo é pastor, sansei (neto de japoneses),  e candidata-se a ser missionário na terra natal de seus avós. Me lembrei do tocante filme Haru e Natsu, e comentei com ele –  a história das duas irmãs, separadas por uma contingência inesperada, na década de 1930, no porto de Kobe, Japão. Isto ocorreu quando a família estava para partir para o Brasil, a fim de tentar a sorte no "promissor país ocidental", mas a caçula foi retida pelo serviço médico japonês, por causa de um tracoma ocular. As duas irmãs somente se reencontram depois de 70 longos anos, no início dos anos 2000, depois de décadas sem notícia uma da outra, de muitas cartas emitidas de cada lado, que jamais chegaram às mãos destinadas.

Entre as motivações apresentadas pelo Diogo, para a urgência da evangelização no Japão, constam:

– População (10ª no mundo) de alta densidade demográfica, com 128 milhões num pequeno território geográfico

– Relação com o Brasil: além do Brasil ter a maior colônia de japoneses fora do Japão, o Japão tem a segunda maior colônia de brasileiros fora do Brasil

– Deficit cristão : o Japão está entre os países menos evangelizados do mundo

– Religiosidade: Xintoísmo (51,2% da população) e Budismo (38,3%) dominam aquele povo

– Taxa de suicídios: O Japão se tornou conhecido pela altíssima taxa de suicídios, mesmo entre jovens (a maioria das ocorrências afeta a faixa etária 24~29 anos).

  São cerca de 32 mil por ano, em média. É a mais alta taxa relativa (em relação à população) do mundo, que resulta em cerca de 25 para cada bloco de 100 mil pessoas. Pouco mais do que a Rússia, mas o dobro do que ocorre nos Estados Unidos, e seis vezes a taxa brasileira. No mundo, segundo a OMS, são 1 milhão por ano. 

   No Japão, como no resto do mundo, são os conflitos existenciais que levam à quase totalidade dos suicídios (o restante decorre dos problemas patológicos/neurológicos, que obstruem a sanidade mental, levando a atos fora de controle).  Lá, 45% das causas estão relacionadas à descrença numa vida com saúde, e 25% estão relacionados à descrença numa vida economicamente e minimamente saudável. A cosmovisão das religiões japonesas não cria qualquer senso de culpa ou sensação negativa em relação ao suicídio. Muito ao contrário do cristianismo. Isto faz-me lembrar aquele que é considerado, contemporaneamente, o maior dos poetas brasileiros – Carlos Drummond de Andrade. O mineiro, numa entrevista a um repórter da Folha de São Paulo, pouco tempo antes de morrer, respondeu à várias perguntas, entre elas:

– "Qual a opinião do senhor acerca do suicídio ?"

– "Acho um ato heróico de grandeza moral !"

   O desencantamento com a vida não é privilégio dos suicidas compulsivos. Os problemas que nos afetam são muitos. Insônia é um sintoma cada vez mais frequente, tendo a maior parte de suas causas nas apreensões do dia. Não há dúvidas de que, apesar dos avanços tecnológicos, e do aumento expressivo de oferta acessível de bens que parecem criar qualidade de vida, ou daqueles que comumente são usados para medi-la, os fatos reais vão mostrando um padrão de vida cada vez mais estressante e depressivo.Por outro lado, muitas das "âncoras" da vida saudável do passado parecem ir se tornando cada vez mais fragilizadas:

– a família

– o casamento

– a própria religião

– finanças, carreira profissional

– perdas familiares

– a sôfrega busca por uma uma vida "bem sucedida"

    O que fazer? Como lidar com esse tipo de situação aflitiva, hoje em dia? A fórmula que eu conheço ainda é a "velha fórmula"; ainda bem que o "prazo de validade" não se esgota. A fórmula está mais do que suficientemente testada em muitas vidas, não muito diferentes das nossas, resguardadas as proporções de épocas e circunstâncias. O meu "velho livro preto" produz eco quase que diário em minha lembrança, e na de muitos que a ele recorrem, de que devemos estar "certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!" (I Pedro 5.9-11) Falando em tese, nós não somos melhores nem piores do que os que amaram ao Senhor no passado. "Sofrimentos iguais aos vossos" significa, na minha leitura, que vários dentre a nossa irmandade, espalhada pelo mundo (e pelos séculos), tiveram lá suas aflições familiares. Afinal, tão de carne e osso quanto nós eram eles. Certamente, tiveram lá suas dificuldades no casamento – os servos de Deus, e também as servas de Deus. Quantos deles, com toda certeza, se decepcionaram com a instituição eclesial do seu tempo, ou com as pessoas que a conduziam, ou com os líderes de então.Qual deles, falando no geral, não passou por algum aperto aflitivo das finanças? Se houvesse banco naqueles tempos, não raro haveria, mesmo entre eles, um dia de cheque que voltou, ou algum bloqueio bancário por razões ilegítimas. Pode ser que não tivessem tudo quanto queriam, mas não lhes faltou o que precisavam. Quantos deles não passaram a vida contando as perdas de seus queridos, até que se lhes chegou a própria vez (gloriosa vez)?  E, quanto à "vida bem sucedida"? Quão ilusória, sob a aparência dos olhos alheios, não se lhes mostrou a sina do dia-a-dia?

   Pode até ser que, diante da expectativa da ciranda, ficassem afetados (e, então, "quase" deprimidos). Então, concluo que nada há a reparar nas palavras: "sofrimentos iguais aos vossos". Nada mesmo! Estamos todos no mesmo barco!!! Sim, estamos, embora às vezes pensemos que somos os únicos. Mas, quando o olhar obtuso nos faz pensar que estamos só no barco, o olhar elevado, sob as alças da Palavra e as asas do Espírito, nos faz lembrar que no barco há mais alguém… Aquele que estava lá, com os fiéis do passado, e está ainda hoje! Quanto aos que não têm o temor do Soberano Altíssimo, a grande diferença é a "esperança". Por isto, meu "velho livro preto" ainda lembra:"Não queremos que ignoreis … nem que vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança!" (I Ts 4.13). Sem isto, tantos tiram de si mesmo a vida. E ainda há falsos profetas seculares a diagnosticar isso como "ato heróico de grandeza moral", ademais, é necessário reforçar a admoestação das palavras de vida eterna: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. " (II Cor 7-18)

   Sabe uma lembrança que soma significativamente nesta reflexão? Nossa identidade com Cristo. Por essa identidade, nos é prometida uma vitória, tal qual a de Cristo. Nos é prometida também uma nova natureza, celestial e triunfante, no gozo eterno. E, ainda, um lugar à destra do Todo-Poderoso do Universo, na Nova Criação, junto com o Cordeiro, o Unigênito, o primogênito.

Mas, é também verdade que "… convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados." (Hebreus 2.17,18) Esse mistério glorioso – nossa identidade com Cristo – faz uma diferença colossal. Ele sofreu tanto quanto sofremos, no mínimo. Desencantou-se tanto quanto nos desencantamos, no mínimo. Embora não lhe faltasse o alimento de cada dia, a racionalização dos recursos deste mundo lhe foi uma realidade familiar, peculiar. Desapontamentos com a turma religiosa não foi novidade escassa para ele… Desilusões pelo quanto foi mal compreendido, e perseguido, isto ele conhecia de perto. Em tudo foi semelhante a nós. E nós seremos semelhantes a ele. Então, vale guardar : "…para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem coisas do presente, nem do porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8.18, 36-39)

  O hino de hoje é especialmente significante. O intérprete que canta a segunda estrofe tinha acabado de passar por duas sessões de tratamento radioterápico precisamente na garganta, na manhã que antecedeu aquele dia, bem como naquela própria manhã. Na verdade, vinha ele lutando com um câncer na garganta havia alguns anos. Pouco mais do que um ano adiante, esse câncer o levaria para junto do seu Senhor. Ouvi-lo dizer, em forma de canto, aquela parte da poesia de Ira Stamphill, em que afirma:

– Minha dor interior, eu ocultarei com um sorriso…
Eu esperarei pelas razões [divinas] até que chegue a hora
E, mesmo que ele me prove, sei que sempre descobrirei
Que o que Deus faz transforma os sofrimentos como o fogo transforma a prata, eliminando sua escória… 

Deve ter sido especialmente tocante para aquele grupo que cantava com ele. Para quem conhece algo da vida e das demais composições de Ira Stamphill, difícil é pensar que "esconder o sofrimento atrás de um sorriso" seja um ato de cenário artístico"para inglês ver". Antes, só pode ter sido a expressão de alguém que diz: meu sofrimento pode fazer doer meu coração, mas não deixarei que ele apague meu sorriso, nem minha fé, nem minha esperança, nem minha vida, nem minha glória em Cristo, em quem estou oculto, e com quem me identifico!

WE'LL TALK IT OVER (1949)
NÓS TRATAREMOS DISTO
Ira Forest Stamphill (1914-1993)

Though shadows deepen, and my heart bleeds,
Ainda que sombras se aprofundem, e meu coração sangre
I will not question the way He leads;
Não questionarei o modo como Ele conduz
This side of Heaven we know in part,
Daqui do lado de baixo do céu nós conhecemos em parte
I will not question a broken heart.
Não questionarei, se meu coração se quebranta.

Coro
We'll talk it over in the bye and bye.
Nós daremos por encerrado este assunto no momento oportuno
We'll talk it over, my Lord and I.
Trataremos disto, meu Senhor e eu
I'll ask the reasons – He'll tell me why,
Eu pedirei os motivos – Ele me dará os porque's [se o quiser]
When we talk it over in the bye and bye.
Quando encerrarmos o assunto, no momento oportuno. 

Danny Gaither:
I'll hide my heartache behind a smile
Eu ocultarei a minha dor interior por meio de um sorriso
And wait for reasons 'til after while.
E esperarei pelas razões até que chegue a hora
And though He try me, I know I'll find
E ainda que Ele me prove, eu sei que [sempre] descobrirei
That all my burdens are silver lined.
Que todas as minhas aflições são revestidas de prata.

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
 Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional