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N° 107 : “TOMAI, COMEI…”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 26 de Maio de 2013

Nesta semana, minha lembrança foi levada de volta a um fato chocante, ocorrido em 1972. Ficou conhecido como o "milagre dos Andes". 

Minha atenção mais ainda retrocedeu a ele, ao ver um dos documentários produzidos sobre o episódio. 
Uma aeronave da força aérea uruguaia, com cinco tripulantes, transportava mais quarenta pessoas, incluindo uma equipe de rúgbi, em direção ao Chile. 
No dia 13 de outubro, pensando já ter contornado, pela zona sul, a parte mais elevada da cordilheira dos Andes, o piloto guinou a aeronave rumo a norte, no meio de espessa neblina, em busca de Santiago, e começou a descer. Poucos minutos depois, dois choques em picos a 4200 metros de altitude despedaçam, sucessivamente, a asa direita e a esquerda da aeronave. Em seguida, como numa cena inimaginável, o "charuto" (aberto na retaguarda) do aparelho começa a deslizar ladeira abaixo na neve, até parar cerca de 800 metros mais embaixo, num lugar remoto chamado "Vale de Lágrimas" (mas é um vale glacial); em volta, só montanhas e vulcões, com altitudes entre 4200 e 5400 metros, cobertos de gelo e neve. 
No acidente, doze vidas a menos; até dia seguinte, com uma temperatura que caiu a 34° negativos durante a noite, mais cinco perdas, ficando vinte e oito sobreviventes iniciais. Uma avalanche de neve, dezesseis dias após o acidente, ceifou mais oito dos vinte e sete que ainda restavam. De outubro a dezembro, restariam dezesseis sobreviventes, durante 72 dias de um isolamento gelado singular. 

Uma notícia ouvida pelo rádio, apenas dez dias depois do acidente, impõe um rumo inusitado à história da tragédia: as expedições conjuntas de busca dos três países – Uruguai, Argentina e Chile – decidem encerrar as buscas, por considerarem muito difícil a localização dos destroços e impossível de haver sobreviventes. Ao ouvirem isto, dois sobreviventes, estudantes de medicina, sabedores da extinção a curtíssimo prazo do que se alimentarem, levam o grupo a uma decisão inusitada: suprir a necessidade com a carne gélida dos mortos. Um dos primeiros a encorajar os demais toma a lembrança da instituição da Ceia na última páscoa de Jesus Cristo, especialmente a frase – "tomai e comei: isto é o meu corpo, partido por amor de vós! ", interpondo a analogia para sublimar a dor de ter que recorrer a ato tão extremo, em busca de sobrevivência de longo prazo. Depois da notícia do rádio, mais de dois meses ainda se passariam ali. Até alguns dos moribundos encorajavam os que ficavam, parafraseando as palavras de Jesus – "Tomai, e comei, de mim, e vivei !" (dá prá imaginar ?). 
Dezesseis sobreviventes dos quarenta e cinco ocupantes originais do avião foram resgatados às vésperas do Natal de 1972, depois que dois deles atravessaram picos e vales congelados,  em busca de socorro, até encontrarem. Ao ensejo do recente cômputo de 40 anos do resgate, quando perguntado sobre a sensação, depois de tanto tempo, quanto ao "ato extremo de canibalismo", um dos sobreviventes respondeu:
– Nós não fizemos 'canibalismo'; apenas, sobrevivemos! Aquilo foi a nossa única salvação! 

Nos séculos segundo e terceiro da era cristã, muitos houve que, sem conhecimento de causa, acusaram levianamente os cristãos da prática de canibalismo. 
Diziam serem os cristãos indignos de prevalecer no 'justo' império dos césares, porque continuamente faziam uso da prática de comer a carne de um certo morto. 
Foi necessário esforço da parte dos apologistas cristãos, para explicar que as palavras – "Tomai, comei; isto é o meu corpo" (Mateus 26.26) não são uma ordem literal, antropofágica; ao contrário, trata-se de um imperativo-vocativo de teor figurado, espiritual. 
Um deles, o ateniense Atenágoras (133-190 d.C.), endereçou uma magistral missiva aos imperadores, desmistificando a acusação de que os cristãos seriam "antropófagos", "canibais". De fato, disse o Filho de Deus:
"Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim " (João 6.54-57, BCF). 
Mas isto precisa ser compreendido pelo prisma da comunhão espiritual, embora guarde sua própria relação com a celebração pascal.

Quando digo imperativo-vocativo, é isso mesmo que quero dizer. 
Penso haver um conteúdo primário nas palavras, no sentido em que Jesus colocou aos seus discípulos na primeira celebração. 
E este sentido é mesmo um imperativo. É a maneira pela qual se pode discernir que Jesus Cristo está, de fato, e em matéria espiritual, presente e acessível a um cristão em comunhão verdadeira com ele, quando este recebe o elemento que traduz o seu corpo, maltratado, castigado, açoitado, crucificado, lancinado e fenecido por amor vicário e expiatório de seus amados. Pena que, hoje, haja tantas pessoas entrando numa igreja (e, não poucos já à frente dela) subestimando e depreciando o profundo significado deste ato. Pena, ainda mais, que tantos estejam em atitude de indiferença (quando não de desprezo) a este imperativo sagrado do Mestre e Senhor, já andando longe daquele lugar especial onde se rodeia, convenientemente, indispensavelmente, a mesa eucarística.  

Mas, tenho certeza de que, após aquela primeira celebração, a repetição da mesma sentença assume também um caráter vocativo. 
Trata-se, para os que, 'inda hoje, ouvem a milenar sentença, mas não se enquadram ainda na condição dos primeiros logo acima, de uma autêntica conclamação. 
Assim como o Mestre, por meio de Sua Palavra, diz aos que estão fora do seu íntimo convívio – "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso"(Mateus 11:28, NVI)… 
Assim como, por igual instrumento, diz ainda "todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6:37, ACRF), assim também, ao ter sua sentença 'inda hoje repetida à frente daquela mesa, ecoa nas mesmas palavras um convite, um chamamento. 
"Tomai, comei… " também pode ser traduzido como um chamamento externo a Ele próprio. 

Se a carne literal  de vítimas fatais de um acidente  significou vida, sobrevivência, salvamento para dezesseis derradeiros do vôo F571 nos Andes, muito mais a carne do Filho de Deus, mutilada, sangrada e morta, por amor de um pecador, na cruz do Calvário, é a única salvação para esse que almeja a vida eterna. 
Sem Ele, sem o seu sangue, sem seu sacrifício, sem a sua cruz, estaríamos irremediavelmente perdidos, como as muitas vítimas do vôo F571 que ficaram involuntariamente sepultadas no gelo e na neve das montanhas do Vale de Lágrimas, nos Andes. Sem Ele, quão perdidos seríamos, ou estaríamos… 
Então, por que ficar distante dEle? 
"Porque o filho do Homem veio buscar e salvar o perdido" (Lucas 19.10, ARA).

Nos anos Sessenta, um dos filhos de Urias e Eva Mae LeFevre compôs um belíssimo hino (sua mãe, Eva, já "cantou para nós" aqui, numa mensagem passada – "I've Got a Mansion Just Over the Hilltop! "). Mal sabia ele que, quando de uma apresentação do hino em certo auditório, lá se encontrava Elvis Presley. Para sua surpresa, o famoso cantor o procurou e revelou sua intenção de gravar um disco só com hinos (veio a ser How Great Thou Art), e de incluir nele o hino que acabava de ouvir.
E assim, o nosso hino de hoje entrou na coletânea de Elvis. 
Mas, os dias da juventude roubaram deste nosso compositor o calor espiritual em que foi criado; o caminho para a sequidão das drogas e da sedução existencial lhe estava escancarado. Trocou os hinos pelo rock. 
Em 1973, quase morreu de uma overdose de heroína; sobreviveu. Depois de um massivo ataque cardíaco em 1989, que quase levou a vida do nosso compositor, voltou-se ele inteiramente ao Seu Redentor. 
Passou, então, a cantar o seu hino com um significado novo, mais brilhante. Por isto disse: 
"Eu era um cristão que pouco testemunhava, pouco cultuava, mas muito me envolvia com o rock! "
A partir de então, intensificou sua agenda de pregação e testemunho, e seu hino adquiriu um novo contorno. 
O sentimento pela sua vida resgatada em Cristo passou a exibir uma intensidade ainda maior que a dos dezesseis sobreviventes do "milagre dos Andes". 
Ouça aqui o hino, no belo arranjo de Ponder, Harp & Jennings…  

WITHOUT HIM… 
SEM ELE…, 1962
Mylon R. LeFevre (1944…)

Without Him I could do nothing… 
Sem Ele eu nada poderia fazer… 
Without Him I'd surely fail…
Sem Ele eu certamente falharia…
Without Him I would be drifting
Sem Ele eu vagaria
Like a ship without a sail!
Como um barco sem vela! 

Jesus, my Jesus
Jesus, meu Jesus
Do you know Him today?
[Se] você o conhece hoje
You can't turn Him away!
Não há como descartá-lo!
Oh! Jesus, my Jesus
Jesus, meu Jesus
Without Him, how lost I would be!
Sem Ele, quão perdido eu estaria! 

Without Him I would be dying
Sem Ele eu estaria em morte iminente
Without Him I'd be enslaved
Sem Ele eu estaria escravizado
Without Him I would be hopeless
Sem Ele não me haveria esperança 
But with Jesus, thank God, I'm saved!
Mas com Jesus, graças a Deus, sou [estou] salvo!
 

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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ACRF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional