Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 05 de Agosto de 2012
Imagino que serão poucos os brasileiros conscientes que, nos dias presentes, não terão algum grau de interesse no que se passa em Brasília. Mais precisamente, no que se passa no recinto do STF, o Supremo Tribunal Federal. Depois de alguns anos arrastando-se pelas vias internas daquela corte, finalmente chega-se ao momento de julgamento de trinta e oito (e, deveriam ser apenas 38 mesmo?) acusados pelo Ministério Público brasileiro, em face daquilo que ficou mundialmente conhecido como o "Mensalão"; este é o neologismo que designa o que o MP acusa como "o mais sórdido esquema de corrupção havido entre Executivo e Legislativo no país ".
As primeiras cenas – conflitos entre defensores e promotor, conflitos entre promotor e juízes, conflitos entre defensores e defensores, e conflitos entre os próprios juízes da máxima corte – põem a pensar sobre o significado do adjetivo que enfeita o nome daquela instância – "supremo". Cidadãos de bem esperam que se faça "justiça". No entanto, com muitos que converso, e em muitos que leio, percebo claramente o grave ar de dúvida.
Poucos anos atrás, lembro-me da revelação de minha filha, que hoje exerce a atividade jurídica, dando conta de que alguns dos próprios professores da sua faculdade já alertavam para a não rara distância que é usual perceber, lamentavelmente, entre a teoria do Direito e a sua prática. Aliás, a distorção já pode ser percebida pela caracterização parcial que determinados pronunciamentos exibem. Por exemplo: ocorre um fato de grave imputação de consequências ilegítimas, como foi o caso daquele jovem que foi morto por policiais de um estado brasileiro, numa abordagem sumária, e ouve-se o bordão – "o que mais quero é que seja feita a justiça", como exclamou seu pai. "Justiça", aqui, parece ter a conotação básica da punição exemplar e repositora (por que não dizer, 'aquela' que cumpra o papel de vingar a perda).
Antes que minhas considerações singelas me induzam à discussão de mérito da questão, o que não é meu foco (nem jurídico, nem político, nem social), deixem-me lembrar sábias palavras de consolação e esperança do maior jurista de todos os tempos (porquanto, comissionado como o melhor advogado de defesa), também o maior legislador, já devidamente aprovado para ocupar a vaga (única, por sinal – é apenas questão de tempo) de juiz supremo da história: "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos" (Mateus 5.6). Há dois tempos verbais nesta afirmação do Sumo Mestre… o tempo presente do verbo 'ter' e o tempo futuro do verbo 'ser'…
'Ter fome e sede de justiça' é algo que, a mim, parece muito mais amplo do que aspirar pela justa vingança do mal. Isto pode ser esperado também, mas a atitude não se limita a isto, e nem disso se constitui em sua essência. Na minha humilde opinião, inclui-se no 'ter fome e sede de Justiça' a aspiração pessoal pelo caráter de Cristo… No Antigo Testamento, foi prometido aos que temiam o Nome de Deus o nascimento, a chegada do "sol da justiça", que é Cristo (Malaquias 4.2). O apóstolo, na sua cristalina revelação, assim se referiu a ele, em tempo porvir: "Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça." (Apocalipse 19.11). Não há referencial maior de 'justiça em pessoa'. Sim, o Filho Deus é o ápice supino da justiça em pessoa. E, como a Lei Universal do Criador exige que sejamos dele imitadores (I Co 11.1; Efésios 5.1), estou convencido de que 'ter fome e sede de justiça' implica, necessária e inescapavelmente, numa atitude pessoal de constante e policiado exercício da imitação de Cristo (tomando emprestada a expressão do grande Tomas a Kempis).
Há muitas caracterizações práticas prescritas para moldar esta atitude: – Evitar, terminantemente, 'dois pesos e duas medidas' (Provérbios 20.10), que é a postura de tratar pessoas diferentes, situações diferentes, com critérios diferentes, que oscilam entre o lícito e o ilícito, entre o digno e o indigno, entre o certo e o errado (especialmente pelos efeitos que a nós mesmos produzem). No Direito dos homens, chama-se isto o "Princípio da Isonomia", virtude a ser perseguida pelos que clamam por justiça.
– Dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, como ele mesmo demandou (Mateus 22.21). – Julgar os outros conforme a justa compreensão de nós mesmos, de nossas próprias limitações ou falhas (vede o ensino do Mestre, quanto ao confronto entre o argueiro no olho alheio e a trave no olho próprio (Mateus 7.1-5).
– Praticar o certo, evitando o errado, não pela expectativa soberba de aplauso dos homens (como os escribas e fariseus), mas pela expectativa humilde e simples de aprovação dos olhos de Deus(Mateus 5.20). Aí estão apenas uns poucos exemplos, um simples 'intensivo'. Se quisermos ter um 'curso extensivo' mais amplo, precisaremos estudar com afinco, pelo menos, o decálogo de Êxodo 20, todo o livro de Provérbios, e o Sermão da Montanha (Mateus 5 a 7). No mínimo!
Aí está um pouquinho do que, na minha singeleza, penso poder registrar para caracteriza o presente verbal focalizado. Mas, há ainda o futuro do verbo 'ser'… "… Porque serão fartos", diz o Presentemente-Advogado-Futuramente-Juiz. Penso que pode haver uma pequena dose de 'presente' nesta promessa, uma vez que os valores éticos do Reino de Justiça já se podem notar entre nós. Aliás, precisam ser notados, e praticados, e almejados. No entanto, a dose maciça dessa fartura, inegavelmente, é futura mesmo. É no futuro, também nosso (e não apenas apostólico), que reside o cumprimento cabal dessa confortadora promessa. Todo o contexto das chamadas "Bem Aventuranças" (também chamadas de 'beatitudes') aponta para essa consumação futura, que alenta diariamente o cristão. Com isto, importa a cada um de nós não nos desalentarmos quando um tribunal humano, ou mesmo um juízo monocrático, demonstra injustiça aos nossos olhos. Afinal, são humanos mesmo (e, não poucas vezes, sem condições de se livrarem da impiedade natural humana)! Naquele dia, pelas ações cabais do Justo Juiz, o nosso Sol da Justiça, toda injustiça cessará, e a Sua justiça suplantará tudo o que tiver passado, inclusive o que nos tiver atingido, e que restar sem reparo.
Se o STF 'fará justiça' neste nosso temporário país, eu realmente não sei (espero que sim, porque sou um cidadão do reino dos céus que ainda não se desprendeu da sociedade terrena; tampouco me alienei). Mas, que toda injustiça que hoje campeia AINDA verá o dia em que os bem aventurados que têm fome e sede de justiça serão fartos, ah, isso verá! Breve!! E eu espero!!!
Para terminar, fique com o belíssimo hino cantado pelo Quarteto Templo : "Há Na Glória Um Bom País", que se encontra anexo.
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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional