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N° 31 : “NÃO ESTAMOS SÓS!”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 30 de Outubro de 2011

A nossa vida tem idas e vindas muito curiosas; algumas, surpreendem muito positivamente, outras surpreendem de modo decepcionante. Não faz muito tempo visitei um senhor de idade, já acometido das enfermidades típicas do dilatado número de “janeiros”. O enfrentamento das enfermidades, para ele, era algo não exageradamente difícil de encarar. Não, tanto quanto o que mais lhe incomodava. Afinal, há hoje fartura de medicamentos, diversidade de planos de saúde, e os médicos não lhe estavam tão fora de alcance. Mas a sua face denunciava algo que seu lábios, por poucas palavras que deixaram escapar, acabaram por confirmar: o pior de tudo é ficar só! Parece que, para muitos de nós, a sina é esta – vimos a este mundo acompanhados, mas não é raro partir dele na solidão. Não bastasse a idade, a enfermidade, ainda acumulava a desventura de ver os de sua própria casa causar-lhe muitos dissabores, e aumentar-lhe o sentimento. Parece que solidão é algo que se pode sentir, mesmo no meio da multidão.Não é raro perceber isto, hoje em dia. De fato, estamos quase todos envolvidos numa rotina de tirania sobre o nosso tempo. Com isso, lidamos sempre com muitas pessoas. Mas, os dias de hoje parecem ter deixado muito para trás aqueles dias de outrora, em que se podia cultivar boas e duradouras amizades, amizades prá valer. Não dá tempo!

   Pouco tempo atrás recebi uma carta de um ex-aluno. Teve ele a coragem de escancarar o coração para mim. Estava desiludido. Estava sem entusiasmo. Estava sem fanal. Tudo lhe parecia um vazio. Ler a sua carta deu até um certo calafrio. Um sentimento de estar sozinho, num mundo tão povoado, era algo que também lhe angustiava. É verdade que as circunstâncias de um período pressionavam mais ainda aquele cenário. Mas, também creio ser verdade que, mesmo sob circunstâncias mais leves, muitos de nós passamos por abatimentos com certo grau de semelhança. Me lembro de Elias. Houve um dia em que ele se sentiu só, inteiramente só. Quando isto lhe ocorreu, que história Elias já tinha, diante de Deus, prá contar? Não pouca, nem  pobre:

– Ele já tinha vivido um tempo de “retiro espiritual”, bebendo de uma límpida fonte provida por Deus, e comendo comida que os corvos, por mando divino, lhe supriam todos os dias (I Rs 17)

– Também já havia ele, por providência divina, partilhado da fartura do azeite da botija e do cereal da panela da viúva de Sarepta (também I Rs 17)

– Ele mesmo já tinha sido o instrumento da mão poderosa do Altíssimo, ressuscitando o filho daquela viúva (idem)…

– E mais: ele mesmo, sozinho (e com Deus ao seu lado), já havia desafiado os quatrocentos profetas de Baal, vindo a ser vitorioso contra os mesmos (I Rs 18)

Um homem, contra quatrocentos. Aliás, um, sob as mãos do Todo-Poderoso, contra quatrocentos.

– Isto, sem contar a grande chuva por ele profetizada, que pôs fim à sequidão da terra, e a fome (também I Rs 18)

    Entretanto, chegou o dia em que a solidão lhe pesou. E pesou tanto, que Elias pediu para si a própria morte (I Rs 19). Não era Elias um homem de fé? Era! Não era um homem de grandes feitos, de portentos? Sim, com certeza era homem de portentos. Não era um instrumento escolhido por Deus? Sem dúvida, Elias era um escolhido e ungido de Deus. Mas que a solidão lhe pesou, isso pesou! Para alguém assim, escolhido por Deus, de grande fé, até de portentos, alguém um tanto singular, chegar a pedir a Deus que a existência se lhe encerre, é preciso também um forte abatimento. E isto lhe sobreveio, no meio de um intenso sentimento de solidão. Talvez, a diferença mais notável entre ele e muitos de nós, nos dias de hoje, é que ele estava só nos dois sentidos – real (ou físico) e emocional. Já no nosso caso, não raro nos sentimos sós mesmo rodeados de muita gente. Mas é em certos momentos que o sentimento se avoluma. Por exemplo: quando a noite desce, e falta o sono a conciliar; ou então pela madrugada, quando se desperta com lembranças que apertam a alma; ou então, mesmo de dia, quando nos sentimos estranhos e peregrinos nos lugares mais corriqueiros, como o próprio trabalho. Ou então, quando esperamos o que esperamos de alguém querido, mas, isto não se confirma como esperado…

   E qual tratamento foi prescrito para Elias? Qual a prescrição  “psiquiátrica”? Qual a terapia “psicológica”? Primeiro, Deus renovou a ele a visão realista da revelação de Si mesmo, de Seu Ser inefável. Deus se mostrou  a Elias como o Deus que era (e que é, e que sempre há de ser). Parece incrível, mas, estou convencido de que todas as vezes que a nossa fé se abala ao ponto de um grande abatimento, é a percepção de quem é Deus, do que Ele pode, de quão grandioso é, que, uma vez afetada, enferma, responde pelo quadro. E depois, que mais fez Deus com Elias? Bem, depois, Deus tratou a “patologia oftalmológica” de Elias. Seus olhos estavam enxergando de modo errado a realidade; pior, estavam levando a um julgamento equivocado dessa realidade, por falta de dados sobre ela, por falta de percepção. Só Deus tem a percepção do "todo", do "completo". Mostrou-lhe Deus que ainda havia “serviço a fazer”, que havia um sucessor a erguer, e que não estava ele, de fato, só! Não, não estava mesmo! E, mesmo que não houvesse outros “sete mil profetas”, nem assim estava ele só. Como dizia um amigo meu: “Um, com Deus, já é maioria”! Confira tudo em I Reis 19.

    Uma das tarefas mais difíceis que já enfrentei foi, certa ocasião, levar minha palavra pastoral, de consolação, a um casal que havia perdido seu filhinho de 3 anos de idade, com meningite bacteriana fulminante. Um sentimento de solidão se apoderou do coração deles, dia seguinte ao do sepultamento, que tornou o quadro e a tarefa multiplicadamente penosa. Mas, embora sob circunstâncias diferentes, a de Elias não era diferente na sua essência. Sim, é natural que os dias, com seus achaques, perturbem a alma. Afinal, somos de “carne e osso” (ainda, por enquanto, até sermos revestidos da imortalidade). Solidão, mesmo em meio à multidão, pode ser uma ocorrência mais comum do que se imagina. Mas, quanto à incerteza do dia vindouro, quanto à solidão que as circunstâncias podem produzir, há alguém, lá em cima, que tudo controla; e Ele reverteu a sorte de Elias, sendo o mesmo hoje, como era outrora. Ele está disponível e é aqu’Ele a quem se pode recorrer. "Nele a gente pode confiar!" Ele é quem não oculta de nós a Sua face, jamais; quem sustém as nossas mãos e os nossos pés, e é quem nos acompanha seguros, mesmo que o “vale” seja aquele de que falou Davi – o “da sombra da morte”.  Como disse o grande poeta, um dia, sob dor: "Com Sua mão, Cristo me sustém! Sempre seguro me guardará, de dia-em-dia me guiará. Com Sua mão, Cristo me sustém… Se longo é o trilhar, Cristo vai ajudar – Ele me sustém!" Porque, tais vales podem estar sob nossos pés, ou à nossa frente. E tão perto, que mais perto ainda tem de ser a percepção da presença do Companheiro. O  "divino companheiro no caminho"! Não estamos sós!

   O hino de hoje é da autoria de um dos compositores que muito aprecio: Mosie Lister. Acaba ele de completar 90 anos de idade. A mensagem do hino muito tem a relacionar-se com o assunto de hoje. Imagine que experiência de vida o fez compor este poema, que ele mesmo musicou.

WHERE NO ONE STANDS ALONE (1955)
Onde Ninguém se Sustém de Pé Sozinho
Mosie Lister (1921 –  )

Once I stood, in the night, with my head bowed low
Certa vez, numa noite, fiquei com minha cabeça decaída sob peso
In the darkness as black as could be
No meio da escuridão, tão negra quanto pudesse ser
Then my my heart felt alone, and I cried Oh! Lord
Então, meu coração se sentiu sozinho, e clamei – Ó Senhor
Don’t hide your face from me.
Não esconda de mim o teu rosto!

Hold my hand all the way, every hour, every day
Sustém minha mão, por todo o caminho, cada hora, cada dia
From here to great unknown…
A partir daqui,até o grande desconhecido 
Take my hand, let me stand
Toma minha mão, faze-me estar de pé
Where no one stands alone.
Onde ninguém de pé permenece sozinho.

Like a king I may live in a palace so tall
Tal como um rei, posso eu viver num palácio tão alto
With great riches to call my own
Com grandes riquezas que possa denominar minhas
But I don`t know a thing in this whole wide world
Mas, eu não sei de uma coisa, neste vasto mundo 
That`s worse than being alone!
Que seja pior do que estar só!

Querendo, assista The Gaither Vocal Band, numa outra interpretação: http://www.youtube.com/watch?v=jHObV_XCF4I

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Bom Domingo, boa semana,
Ulisses 

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil

ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional