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Nº 258 : “ENKRATEIA”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 03 de Julho de 2016

Há poucos dias, ainda me dediquei à tarefa do desfazimento de pertences remanescentes que foram de minha tia, falecida em 2015. Desta feita, livros que pertenceram ao seu esposo, meu tio Onofre, falecido em 1990. E, dentre eles, indivíduos como “T. Lobsang Rampa”, pseudônimo de Cyril Hoskins, farsante britânico que se proclamava como tendo recebido a reencarnação do suposto lama tibetano de seu codinome. Os livros eram “A Terceira Visão” e “O Médico de Lhasa”, que tanto sucesso fizeram na década de Setenta, no Brasil. Uma das marcas da sua doutrina era a pregação do autodomínio.

Disse o filósofo Aristótles (384~322 a.C.): “O sábio não fala tudo o que pensa, e sim, pensa tudo o que fala!”. Se isto for verdade, digam-me: alguém pode me indicar onde existe um sábio? Martin Luther King (1929~1968) afirmou: “Para suscitar inimigos, não é preciso iniciar uma guerra; basta falar o que se pensa!”.  

De um modo geral, somos reservados em reconhecer, publicamente, quanto somos precipitados. Mas, quando provocados, acabamos obrigados a reconhecer a verdade: que precipitação é marca universal nossa. Por estes dias, pensando na virtude do auto-domínio, fiz uma pequena enquete por amostragem empírica. Minha enquete, mostrou o que eu já imaginava (e, nela, incluí a mim mesmo): de cada dez pessoas consultadas, não menos que dez já se arrependeram por causa de alguma precipitação – seja no falar, seja no agir, ou ao menos no pensar. Não escapa um de nós…

A sabedoria divina ensina: Assim como não é bom ficar a alma sem conhecimento, peca aquele que se apressa com seus pés” (Provérbios 19.2, ACF); e, ainda: “Você já viu alguém que se precipita no falar? Há mais esperança para o insensato do que para ele!” (Provérbios 29.20, NVI). Por isto, exalta a virtude do "domínio próprio" que se encontra entre as que frutificam do Espírito, em Gálatas 5.23.

A palavra grega que o texto ali usa é ENKRATEIA. Ela tem duas partes justapostas – uma preposição e um radical. A preposição é EN (no grego é EG, que vem de EGO, “eu”; mas, na junção, pronuncia-se EN); traz a idéia de self (auto). KRATEIA é governo, domínio, e é a mesma palavra que aparece em democracia, autocracia, burocracia, etc…  

Por que “domínio próprio” é uma virtude? Porque ela evita as conseqüências danosas e nefastas da precipitação. E por que é virtude considerada como “fruto do Espírito”? Primeiro, porque o apóstolo, nessa epístola aos gálatas, ao estabelecer seu contraste, o faz em relação às obras da "carne"; precipitação é inteiramente peculiar à natureza humana dada a si mesma. Segundo, porque, ao usar a metáfora do fruto, aponta que a virtude é um resultado a ser cultivado; não brota ‘por conta própria’, como o mato, que ninguém precisa plantar ou cultivar. Terceiro, porque não se trata de uma qualidade natural do espírito humano, e sim, operada pelo Espírito divino. Basta ler-se o verso 16 do mesmo capítulo, e seremos convencidos de que o seu contraste não é meramente dualista, gnóstico – carne versus espírito (humano). Seu contraste é “carne” (isto é, metonímia para o homem em sua natureza ‘natural’) e Espírito (isto é, o Espírito de Deus, naquele trabalho que Ele realiza em nosso espírito, para controlar, purificar e amoldar a natureza ‘natural’).

Curioso dilema: ENKRATEIA é autodomínio; mas, se depender somente do “auto” (do ego, do eu), nunca ocorrerá a contento. Por isto, a necessidade do Espírito de Deus. Na ministração do domínio próprio que provém do Espírito de Deus, somos conduzidos ao refreamento de toda forma de precipitação. Pelo ensino divino através do apóstolo, temos: “…aplicando, vós, todo o cuidado, ajuntai à vossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento, e ao conhecimento a temperança…” (II Pedro 1.5,6, BCF). “Temperança”, segundo o dicionário, equivale a autodomínio; é a qualidade de quem tem sobriedade, equilíbrio, moderação, comedimento.

No ensino dos lamas tibetanos, do budismo, e de outras formas de doutrina centradas no homem e seu próprio ego, seu espírito (como na Yoga), trata-se de um exercício pessoal. No ensino que a tudo sobrepuja, nenhuma virtude pode o homem cultivar só por  si – muito  menos a ENKRATEIA. Por isto diz a Bíblia : “Andai  no Espírito, e jamais satisfareis a concupiscência da carne” (Gálatas 5.16, ARA). É, portanto, um exercício humano com a ajuda indispensável do 'fisioterapeuta' divino; quer dizer, o "psicoterapeuta" divino.  

Encerro com mensagem musical de um clássico sulino norte-americano, estilo negro spiritual. A autoria precisa é desconhecida; a tradição diz que proveio da cultura afro-americana, oriunda de escravos cristãos, em tempos que levaram à guerra da secessão do século XVIII. A execução é meramente instrumental – dois trompetes e um trombone, executados por três militares cristãos do exército  brasileiro. Na letra, o poeta (ou a poetisa) declara:

Eu sou fraco, mas Tu és forte (I am weak, but Thou art strong)
Jesus, guarde-me de todo o mal (Jesus, keep me from all wrong)
Eu estarei satisfeito enquanto (I'll  be satisfied as long)
Enquanto ando, permita-me andar juntinho de Ti! (As I walk, let me walk close to Thee)

JUST A CLOSER WALK WITH THEE
Tão Somente um Andar Íntimo Contigo

Compositor e data desconhecidos

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Até à próxima


Ulisses

NOTAS (versões bíblicas):
ACF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Soc. Bíblica Trinitariana
ARA – Almeida Revista e Atualizada, Soc. Bíblica do Brasil
ARC – Almeida Revisada e Corrigida, Soc. Bíblica do Brasil
BCF – Versão Católica do Pe. Antonio de Figueiredo
NVI – Nova Versão Internacional, Soc. Bíblica Internacional