Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 04 de Setembro de 2011
Nesta semana tive o privilégio de conhecer o Diogo Inawashiro. Diogo é pastor, sansei (neto de japoneses), e candidata-se a ser missionário na terra natal de seus avós. Me lembrei do tocante filme Haru e Natsu, e comentei com ele – a história das duas irmãs, separadas por uma contingência inesperada, na década de 1930, no porto de Kobe, Japão. Isto ocorreu quando a família estava para partir para o Brasil, a fim de tentar a sorte no "promissor país ocidental", mas a caçula foi retida pelo serviço médico japonês, por causa de um tracoma ocular. As duas irmãs somente se reencontram depois de 70 longos anos, no início dos anos 2000, depois de décadas sem notícia uma da outra, de muitas cartas emitidas de cada lado, que jamais chegaram às mãos destinadas.
Entre as motivações apresentadas pelo Diogo, para a urgência da evangelização no Japão, constam:
– População (10ª no mundo) de alta densidade demográfica, com 128 milhões num pequeno território geográfico
– Relação com o Brasil: além do Brasil ter a maior colônia de japoneses fora do Japão, o Japão tem a segunda maior colônia de brasileiros fora do Brasil
– Deficit cristão : o Japão está entre os países menos evangelizados do mundo
– Religiosidade: Xintoísmo (51,2% da população) e Budismo (38,3%) dominam aquele povo
– Taxa de suicídios: O Japão se tornou conhecido pela altíssima taxa de suicídios, mesmo entre jovens (a maioria das ocorrências afeta a faixa etária 24~29 anos).
São cerca de 32 mil por ano, em média. É a mais alta taxa relativa (em relação à população) do mundo, que resulta em cerca de 25 para cada bloco de 100 mil pessoas. Pouco mais do que a Rússia, mas o dobro do que ocorre nos Estados Unidos, e seis vezes a taxa brasileira. No mundo, segundo a OMS, são 1 milhão por ano.
No Japão, como no resto do mundo, são os conflitos existenciais que levam à quase totalidade dos suicídios (o restante decorre dos problemas patológicos/neurológicos, que obstruem a sanidade mental, levando a atos fora de controle). Lá, 45% das causas estão relacionadas à descrença numa vida com saúde, e 25% estão relacionados à descrença numa vida economicamente e minimamente saudável. A cosmovisão das religiões japonesas não cria qualquer senso de culpa ou sensação negativa em relação ao suicídio. Muito ao contrário do cristianismo. Isto faz-me lembrar aquele que é considerado, contemporaneamente, o maior dos poetas brasileiros – Carlos Drummond de Andrade. O mineiro, numa entrevista a um repórter da Folha de São Paulo, pouco tempo antes de morrer, respondeu à várias perguntas, entre elas:
– "Qual a opinião do senhor acerca do suicídio ?"
– "Acho um ato heróico de grandeza moral !"
O desencantamento com a vida não é privilégio dos suicidas compulsivos. Os problemas que nos afetam são muitos. Insônia é um sintoma cada vez mais frequente, tendo a maior parte de suas causas nas apreensões do dia. Não há dúvidas de que, apesar dos avanços tecnológicos, e do aumento expressivo de oferta acessível de bens que parecem criar qualidade de vida, ou daqueles que comumente são usados para medi-la, os fatos reais vão mostrando um padrão de vida cada vez mais estressante e depressivo.Por outro lado, muitas das "âncoras" da vida saudável do passado parecem ir se tornando cada vez mais fragilizadas:
– a família
– o casamento
– a própria religião
– finanças, carreira profissional
– perdas familiares
– a sôfrega busca por uma uma vida "bem sucedida"
O que fazer? Como lidar com esse tipo de situação aflitiva, hoje em dia? A fórmula que eu conheço ainda é a "velha fórmula"; ainda bem que o "prazo de validade" não se esgota. A fórmula está mais do que suficientemente testada em muitas vidas, não muito diferentes das nossas, resguardadas as proporções de épocas e circunstâncias. O meu "velho livro preto" produz eco quase que diário em minha lembrança, e na de muitos que a ele recorrem, de que devemos estar "certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!" (I Pedro 5.9-11). Falando em tese, nós não somos melhores nem piores do que os que amaram ao Senhor no passado. "Sofrimentos iguais aos vossos" significa, na minha leitura, que vários dentre a nossa irmandade, espalhada pelo mundo (e pelos séculos), tiveram lá suas aflições familiares. Afinal, tão de carne e osso quanto nós eram eles. Certamente, tiveram lá suas dificuldades no casamento – os servos de Deus, e também as servas de Deus. Quantos deles, com toda certeza, se decepcionaram com a instituição eclesial do seu tempo, ou com as pessoas que a conduziam, ou com os líderes de então.Qual deles, falando no geral, não passou por algum aperto aflitivo das finanças? Se houvesse banco naqueles tempos, não raro haveria, mesmo entre eles, um dia de cheque que voltou, ou algum bloqueio bancário por razões ilegítimas. Pode ser que não tivessem tudo quanto queriam, mas não lhes faltou o que precisavam. Quantos deles não passaram a vida contando as perdas de seus queridos, até que se lhes chegou a própria vez (gloriosa vez)? E, quanto à "vida bem sucedida"? Quão ilusória, sob a aparência dos olhos alheios, não se lhes mostrou a sina do dia-a-dia?
Pode até ser que, diante da expectativa da ciranda, ficassem afetados (e, então, "quase" deprimidos). Então, concluo que nada há a reparar nas palavras: "sofrimentos iguais aos vossos". Nada mesmo! Estamos todos no mesmo barco!!! Sim, estamos, embora às vezes pensemos que somos os únicos. Mas, quando o olhar obtuso nos faz pensar que estamos só no barco, o olhar elevado, sob as alças da Palavra e as asas do Espírito, nos faz lembrar que no barco há mais alguém… Aquele que estava lá, com os fiéis do passado, e está ainda hoje! Quanto aos que não têm o temor do Soberano Altíssimo, a grande diferença é a "esperança". Por isto, meu "velho livro preto" ainda lembra:"Não queremos que ignoreis … nem que vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança!" (I Ts 4.13). Sem isto, tantos tiram de si mesmo a vida. E ainda há falsos profetas seculares a diagnosticar isso como "ato heróico de grandeza moral", ademais, é necessário reforçar a admoestação das palavras de vida eterna: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. " (II Cor 7-18)
Sabe uma lembrança que soma significativamente nesta reflexão? Nossa identidade com Cristo. Por essa identidade, nos é prometida uma vitória, tal qual a de Cristo. Nos é prometida também uma nova natureza, celestial e triunfante, no gozo eterno. E, ainda, um lugar à destra do Todo-Poderoso do Universo, na Nova Criação, junto com o Cordeiro, o Unigênito, o primogênito.
Mas, é também verdade que "… convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados." (Hebreus 2.17,18) Esse mistério glorioso – nossa identidade com Cristo – faz uma diferença colossal. Ele sofreu tanto quanto sofremos, no mínimo. Desencantou-se tanto quanto nos desencantamos, no mínimo. Embora não lhe faltasse o alimento de cada dia, a racionalização dos recursos deste mundo lhe foi uma realidade familiar, peculiar. Desapontamentos com a turma religiosa não foi novidade escassa para ele… Desilusões pelo quanto foi mal compreendido, e perseguido, isto ele conhecia de perto. Em tudo foi semelhante a nós. E nós seremos semelhantes a ele. Então, vale guardar : "…para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem coisas do presente, nem do porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8.18, 36-39)
O hino de hoje é especialmente significante. O intérprete que canta a segunda estrofe tinha acabado de passar por duas sessões de tratamento radioterápico precisamente na garganta, na manhã que antecedeu aquele dia, bem como naquela própria manhã. Na verdade, vinha ele lutando com um câncer na garganta havia alguns anos. Pouco mais do que um ano adiante, esse câncer o levaria para junto do seu Senhor. Ouvi-lo dizer, em forma de canto, aquela parte da poesia de Ira Stamphill, em que afirma:
– Minha dor interior, eu ocultarei com um sorriso…
Eu esperarei pelas razões [divinas] até que chegue a hora
E, mesmo que ele me prove, sei que sempre descobrirei
Que o que Deus faz transforma os sofrimentos como o fogo transforma a prata, eliminando sua escória…
Deve ter sido especialmente tocante para aquele grupo que cantava com ele. Para quem conhece algo da vida e das demais composições de Ira Stamphill, difícil é pensar que "esconder o sofrimento atrás de um sorriso" seja um ato de cenário artístico"para inglês ver". Antes, só pode ter sido a expressão de alguém que diz: meu sofrimento pode fazer doer meu coração, mas não deixarei que ele apague meu sorriso, nem minha fé, nem minha esperança, nem minha vida, nem minha glória em Cristo, em quem estou oculto, e com quem me identifico!
WE'LL TALK IT OVER (1949)
NÓS TRATAREMOS DISTO
Ira Forest Stamphill (1914-1993)
Though shadows deepen, and my heart bleeds,
Ainda que sombras se aprofundem, e meu coração sangre
I will not question the way He leads;
Não questionarei o modo como Ele conduz
This side of Heaven we know in part,
Daqui do lado de baixo do céu nós conhecemos em parte
I will not question a broken heart.
Não questionarei, se meu coração se quebranta.
Coro
We'll talk it over in the bye and bye.
Nós daremos por encerrado este assunto no momento oportuno
We'll talk it over, my Lord and I.
Trataremos disto, meu Senhor e eu
I'll ask the reasons – He'll tell me why,
Eu pedirei os motivos – Ele me dará os porque's [se o quiser]
When we talk it over in the bye and bye.
Quando encerrarmos o assunto, no momento oportuno.
Danny Gaither:
I'll hide my heartache behind a smile
Eu ocultarei a minha dor interior por meio de um sorriso
And wait for reasons 'til after while.
E esperarei pelas razões até que chegue a hora
And though He try me, I know I'll find
E ainda que Ele me prove, eu sei que [sempre] descobrirei
That all my burdens are silver lined.
Que todas as minhas aflições são revestidas de prata.
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Bom Domingo, boa semana,
Ulisses
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional