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N° 116 : “SAL E LUZ”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 04 de Agosto de 2013

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

Esta declaração, já famosa, foi pronunciada da tribuna do Senado Federal, então no Rio de Janeiro, precisamente em 17 de Dezembro de 1914, dentro da apologia de um requerimento do seu autor; era ele o senador baiano Ruy Barbosa de Oliveira (1849-1923). O mundo havia acabado de ver deflagrada a Primeira Guerra Mundial, e o Brasil acabava de empossar o paulista Venceslau Brás na presidência, que sucedeu ao gaúcho Hermes da Fonseca, e antecedeu o mineiro Delfim Moreira. No entanto, superando qualquer risco de se incorrer em anacronismo inconsequente, um leitor desavisado da época, autoria e procedência originais bem que poderia imaginar serem palavras contemporâneas, mormente no Brasil.

Das marcantes (e até chocantes) manifestações populares de Junho último, bandeira destacada era o protesto contra a corrupção. A internet se tornou um novo fenômeno desencadeador de levantes populares. Pouco depois, vêm a público notícias provocativas, relacionadas a políticos brasileiros: um senador (logo o que preside a casa) que usa aviões da força aérea nacional em interesses pessoais, como se fossem interesses nacionais; um deputado federal (logo o que preside a casa) que copia o ato do senador, e leva a família para a final da copa das confederações, do nordeste ao Maracanã, em aeronave idêntica; um governador que usa helicópteros do governo estadual como se fossem particulares… Que tempo, que ética, como disse o afamado jurista, filósofo e político romano Marco Túlio Cícero (106 a.C.- 43 a.C.), nada anacrônico tampouco.

Ninguém desafiou tão mais profundamente a corrupção das práticas e dos costumes humanos do que Jesus Cristo. Pensar que seus desafios se endereçaram apenas aos saduceus, políticos corruptos do seu tempo, que dominavam as estruturas do governo de Israel, subjugados na cumplicidade ao império romano, ou pensar que se endereçaram apenas aos fariseus, legalistas do seu tempo, que tinham preceitos na ponta da língua, mas desprezavam-lhes a essência, é ignorar o significado da vinda do Messias ao mundo.

Nada mais precioso para compreender a ética do magnânimo Mestre, o Filho de Deus, do que assimilar toda a substância dos seus ensinos no monumental Sermão da Montanha (Evangelho de Mateus, capítulos 5 a 7), aprendendo a sábia síntese que Ele produziu a partir do valor da eterna lei, sem subestimar o singular contraste que ele construiu a partir das deturpações que sobre ela – a Lei – os tempos foram acarretando, pela desídia dos homens. Essa síntese não abdicou do que é mais central na lei divina – a santa vontade de Deus para o ser, o pensar e o fazer humano; contudo, revestiu-a do elemento mais sublime que em Deus mesmo há – o Seu amor! Destarte, os preceitos relacionados ao homicídio, à oferta ou à esmola, ao adultério, aos juramentos, à retribuição por males estão demarcados pelo rigor que é próprio à Lei, mas também pelo amor que é da essência divina. Todo sacrifício, todo altruísmo, se não for realizado com discrição diante dos homens, tendo por alvo a  Deus somente, é inútil (Mateus 6.5-8 e 16-18). O esforço do trabalho não é desdenhado nem rejeitado, mas abandonar a confiança na provisão divina, como se Dele não procedesse qualquer êxito pelo esforço, é insano (Mateus 6.25-34). O julgamento do próximo deve ser comedido, porque, quem é isento diante de advertência tão pertinente quanto – "Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio" (Mateus 7.3, ARA) ?

Nesse sermão, a hierarquia de objetos do valor passa por uma percepção que se opõe à que comumente se pratica no mundo: esta tem, no topo da hierarquia o "eu" mais soberano; depois, empatando na mesma camada, o "meu” e os "meus"; no fim, quando muito, Deus, deixando durante o percurso os semelhantes, como meio para satisfação dos que estão no topo. Lá, com o sermão do Mestre, aprende-se a rota da inversão: no topo, ocupando um "primeiro lugar" soberano e absoluto, Deus! O "eu", o "meu” e os "meus" vão para o fim da fila de prioridades em valores; antes disto, vem a família e mesmo os semelhantes. Que ética desafiadora!  Amar  inimigos?  Orar por algozes e perseguidores?  Onde já se viu isso? Quem jamais ensinou isso, com a propriedade e a autoridade de ter feito exatamente assim, no antes, no durante e no depois?  

Cabe nesta linha de percepção a leitura das "Bem-Aventuranças" (Mateus  5.2-11)… Há renúncia, há dificuldades, há adversidades a enfrentar, mas o Pai Celeste está acima de tudo, tudo contempla, e tem recompensa futura…

O Pai Celeste sabe de cada uma das necessidades dos que estão sob Seus cuidados (Mateus 6.30-33).

Em matéria de boas dádivas, ninguém supera o Pai Celeste (Mateus 7.10).  

Nesse áureo texto, Jesus reconhece que o mundo está a carecer de sal e luz, para contrastar com a podridão e as trevas que nele residem. E compromete uma parcela dos que nele habitam – precisamente os que são dispostos a seguir-lhe os ensinamentos – a exercer esse necessário papel no mundo. Então, não há muito como esperar que o quadro diagnosticado por Ruy Barbosa tenha significativas mudanças. Mas isto não importa ao Mestre; antes, importa que os seus façam o seu papel, Não há como esperar significativas mudanças éticas da classe política, dos segmentos financeiros, da classe empresarial, dos dominadores, dos legisladores, dos julgadores, etc… Que se façam muitas passeatas, muitas manifestações, e alguns paliativos, algumas maquiagens podem até ocorrer… Mas, mudanças de significação eu não espero, porque "enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" (Jeremias 17.9, ARA)  Mas há muito que esperar dos que levam a sério os desafiadores ensinos do Redentor divino; esses ensinos estão na rota da contracultura humana; por isto são tão desafiadores. Daí que, como afirmou o Senhor, "se a vossa justiça não exceder  em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (Mateus 5.20, ARA).

Eu até me atrevo a dizer: é no Sermão do Monte que encontramos a mais bendita síntese, o mais augusto manual ético que pode prover antídoto ao vero diagnóstico do eminente jurista e senador baiano de outrora. Mas, quer saber? Nenhum efeito terá, nenhuma eficácia fará, se houver também atenção à ressalva que o Divino Pastor assinalou dentro do mesmo sermão. Sei que eu poderia reproduzir a ressalva aqui; mas, se você leu até agora, fica um desafio, caso haja a curiosidade  – que ressalva é?
Pois então confira pessoalmente em Mateus 7.24-27, em qualquer versão bíblica que esteja ao seu alcance. Se você não conferir, perderá a "cereja do bolo".

Interessante a mensagem da música do Paulo Cezar (Grupo Logos) que se encontra logo abaixo! 

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15)!
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ACRF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional