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Nº 028 – “SAUDADES”

Ministérios EFRATA – Arautos de Vida
Setembro de 2016

Indo para a igreja, num destes últimos domingos, coloquei, mais uma vez, um precioso CD para tocar no carro, durante o trajeto. Fazia algum tempo que não o ouvia. Numa das faixas, a saudade do amigo bateu forte. Escuta-lo cantando, especialmente aquela faixa, foi emoção subida. Falo da composição “The Homeland Shore” (1890), letra original de Fanny Jane Crosby (1820-1915), com música de Stephen Collins Foster (1826-1864) e Ira Sankey (1840-1908); com a versão para o vernáculo de Justus Henry Nelson (1849-1931), ficou sendo “Da Linda Pátria Estou Bem Longe’. Quantas vezes ouvi o virtuoso  amigo  executa-la ao piano? O que diz a faixa?

Da linda pátria estou bem longe, cansado estou
Eu tenho de Jesus saudades, oh! Quando é que vou…

A voz que cantava no meu CD era a voz de Sebastião Guimarães Costa Filho (1945-2015). Pastor, evangelista, poeta, músico, compositor, professor – várias virtudes. Pernambucano de Garanhuns, adotou, temporariamente, os solos fluminense, paulista e baiano para exercer seus dotes em Nome daquEle que o conquistou para Si. Mas, foi no solo mineiro que o ‘empréstimo geográfico’ o reteve, por duas distintas ocasiões, até a que lhe findou a jornada.

Quando eu o sucedi (sem qualquer mérito), à frente da centenária Igreja Presbiteriana da Bahia, em 1987, fiz algo que lhe marcou a despedida para as terras paulistas: pus toda a congregação a cantar “No tempo em que meu trabalho acabar, e enfim de Deus a presença eu gozar, e quando a Cristo eu puder contemplar, oh! Quanta glória haverá com Jesus!”. Com esse cântico, partiu para a capital de São Paulo, a suceder o saudoso Rev. Denoel Nicodemos Eller.

Seus últimos anos, em Minas, permitiram-nos o reencontro. E encontrávamos-nos toda semana, posto que ensinando na mesma instituição. A amizade antes cultivada reavivou-se. No ano de 2013, uma cirurgia incomum, mas, aparentemente inofensiva, lhe tirou setenta por cento do rim direito. A sequência do tratamento veio a revelar algo mais sério no abdome. Por conta disso, lhe retiraram a vesícula, parte do estômago, parte do duodeno e parte do pâncreas. Era sério mesmo.

Em 2014, começaram as sessões de quimioterapia. Disse-lhe o oncologista que era apenas precaução profilática. Os hospitais criaram um rito, inspirado na tradição da marinha e das ferrovias, para marcar fim de tratamento oncológico: um sino, instalado no setor, tocado pelo paciente, marca o fim do tratamento. Depois de sucessivas sessões, Guimarães chegou a tocar o sino. Então, não havia dito o médico que era só profilaxia? Qual o que! Entre altos e baixos, entremeados com palavras de esperança alternadas com outras preocupantes, viu-se que o caso não era pura profilaxia.

O câncer, em 2014 tido como “encapsulado”, venceu a “cápsula” e atingiu o organismo, em 2015. A metástase se foi alastrando. Visitei-o em casa, visitei-o no hospital. É claro que, lá por dentro, o meu amigo sentia o pesar da possível separação. Não, propriamente, desta vida… Da família, sim; dos demais queridos, certamente… Dos empreendimentos, aparentemente inacabados, também. Afinal, acabara de chegar aos setenta de idade, apenas.

A enfermidade, impiedosa como é, conseguiu extinguir-lhe os fios na cabeça; conseguiu empalidecer-lhe a tez; conseguiu consumir-lhe a pouca gordura e até da própria carne; conseguiu abafar-lhe o apetite. Mas, não conseguiu tirar-lhe o brilho nos olhos, aquele brilho próprio e exclusivo daqueles que, mesmo lutando pela vida, estão seguros e tranquilos se ela findar. Por que seguros? Guimarães, em resposta, me citou, entre lágrimas, sobre o leito:

– Porque eu sei em quem tenho crido, e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até àquele dia, ao final (II Timóteo 1.12).

Como pode, alguém que pressente chegar o seu momento, as forças se esvaindo completamente, o cancro consumindo por dentro, e ainda dizer como disse o apóstolo Paulo? Que outra explicação, senão o fato da gloriosa esperança que provém da promessa do encontro com o glorioso Senhor? Por isto, ao lembrar-me, todo vez que ouço a sua magnífica voz cantar no meu CD, perfilando as palavras do hino – Da linda pátria estou bem longe, cansado estou; eu tenho de Jesus saudades, oh! Quando é que vou; ou, ainda: Jesus me deu a sua promessa, me vem buscar, meu coração está com pressa, eu quero já voar faz-me pensar: Deus o ouviu! Deus respondeu a ele, num sussurro particular, consolador, repleto de graça, tal qual imagino:

– Guimarães, meu servo bom e fiel, ouvi a tua oração; chegou a tua hora, acabou o  tempo da saudade do que tu ainda não vislumbraste com os próprios olhos, senão, apenas, com os olhos da fé. Vem para aqui; entra no gozo do teu Senhor!

Acabou, em 23 de novembro de 2015, a saudade do Mestre, para ele! Criou-se outra, para nós. Um Arauto de Vida, em vida, que continua sendo arauto de vida, mesmo deixando saudade, depois da partida! Encontrou-se com o Filho  de Deus, mas ainda prega, com o que deixou! 

Quando Noé soltou a pomba na janela da arca, depois de todo aquele dilúvio que cobriu (e destruiu) a terra (está lá, em Gênesis, entre os capítulos 6 e 9, inclusive), e a pomba trouxe a Noé o raminho de  oliveira no bico, a mensagem era clara, do jeito que Deus tinha dito: o dilúvio não será para sempre… Haverá vida, outra vez, e ainda há esperança! Confira, especialmente em Gênesis, capítulo 8. Concordemente com a nossa mensagem, nosso hino-tema é também mensagem de arautos de vida. Mesmo que o 'dilúvio' seja longo e hostil, não vai chover para sempre; há vida, depois dele… 

Nosso hino temático também fala disto. Na voz suave de Cynthia Clawson, ouça a mensagem, com o nosso player online…

IT   WON’T    RAIN   ALWAYS…  (1981)
NÃO VAI CHOVER PARA SEMPRE…
Letra : Gloria Gaither (1942…)
Música : Bill Gaither (1936…) & Aaron Wilburn (1950…)

Someone said that in each life:
Alguém disse que em cada vida 
Some rain is bound to fall:
Alguma chuva é fadada a cair
And each one sheds his share of tears:
E cada um entorna seu tanto de lágrimas
And trouble troubles us all:
E problemas afetam a todos nós
But, the hurt can't hurt forever:
Mas, a dor não pode ferir para sempre
And the tears are sure to dry…:
E as lágrimas por certo hão de se estancar… 

And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
The clouds will soon be gone:
As nuvens logo se dissiparão
The sun that they've been hiding:
O sol que elas têm ocultado
Has been there all along…:
Tem estado lá, em todo o tempo…
And it won't rain always:
E não há de chover para sempre
God's promises are true!:
As promessas de Deus são reais
The sun's gonna shine in His own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He’s gonna see you through!…:
E Ele vela por ti…
The sun's gonna shine in God's own good time:
O sol há de brilhar no tempo próprio Dele [Deus]
And He will see you through!…:
E Ele há de velar por ti! …

AudioPlayer online (controle de volume à direita)

Abraços
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional