Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 13 de Agosto de 2017
Não é de hoje que cristãos confundem milagres com alvos da genuína fé do dia-a-dia. Essa confusão se mostra quando alimentam expectativas de milagres como se fossem sinais visíveis de sua fé, como se fossem objetos de promessas que lhes pertencem. Por conta disso, nutrem expectativas de se cumprirem, em suas vidas, promessas que, na verdade, não lhes pertencem.
Exemplo disto se viu, nestes dias, na atitude do pastor Jonathan Mthethwa. Um jornal do Zimbabwe, país africano, divulgou que ele resolveu desafiar a natureza, assim como Jesus fez. Em Mateus 14, lê-se que Jesus, depois de despedir a multidão à qual ele alimentou, miraculosamente, com a multiplicação de cinco pães e dois peixes, subiu ao monte próximo da margem do Mar da Galiléia para orar. Seus discípulos tomaram o barco e rumaram para Genesaré, do outro lado. E Jesus foi ao encontro deles, alta madrugada. O detalhe é que Jesus foi visto pelos discípulos, que estavam no barco, do lado de fora deste, andando por sobre as águas. Ele não estava em outro barco; simplesmente, mas sobrenaturalmente, desafiou a lei da gravidade.
Então, num rio do Zimbabwe, chamado de Mpmumalanga, o pastor resolveu dar uma demonstração de fé e poder, imitando Jesus. Para isto, ficou uma semana, previamente, em oração e jejum. Mpmumalanga significa “terra do sol nascente”. Jonathan entrou no rio, e foi se afastando, diante dos olhos de muitas pessoas, proclamando que andaria por sobre as águas. Mas, antes que conseguisse ao menos flutuar na horizontal, aconteceu uma tragédia: um dos membros da igreja do pastor, ali presente, relatou que, estando a cerca de trinta metros da margem, foi violentamente atacado por três grandes crocodilos, que deram cabo de sua vida quase instantaneamente. Muitos outros viram isto. O resgate da cidade, então chamado, nem teve tempo para o socorro.
Em muitas igrejas vejo (e ouço) crentes cantando que Deus vai lhe fazer mover no sobrenatural, que se diante deles não se abrir o mar, Deus vai lhes fazer andar por sobre as águas… Outros, cantam sua aspiração sob a lembrança do episódio miraculoso de Marcos 5, em que uma mulher hemorrágica foi curada só de tocar nas vestes de Jesus. Pode até ser que seja mero uso de licença poética, como alguns chegam a defender. Mas, a verdade é que tais cânticos, e atitudes como a do pastor no Zimbabwe, insinuam (quando não até reivindicam) um tipo de fé sem autenticidade. Há muitas ocorrências e muitas promessas de feitos sobrenaturais, na Escritura, que pertencem apenas a quadros particulares da Revelação; não pertencem a outros personagens da história do povo de Deus. Reivindicar tais promessas, alimentar esse tipo de fé é um grande equívoco… Pode ser frustrante, desastroso mesmo, como no caso do rio Mpmumalanga.
Bater com um cajado na beira do rio provavelmente não vai abri-lo, só porque Deus deu essa promessa a Moisés; Deus deu a promessa a Moisés, e só a Moisés, para uma única ocasião. Orar em cima do cestinho de pães e peixes provavelmente não vai repetir o feito de Jesus. Andar por sobre as águas não é uma promessa que alguém mais possa reivindicar, como demonstração de sua fé, só porque a Pedro foi dado esse privilégio, momentaneamente; Pedro andou um pouquinho, e depois nunca mais… Todas as outras ocasiões em que Pedro precisou cruzar sobre águas, usou barcos.
Há uma grande e generalizada confusão entre muitos seguidores da Palavra de Deus, por não saberem entende-la e usa-la. Outro exemplo disso é a definição de fé em Hebreus: “Fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus 11.1, ARA). Alguns são convencidos por pregadores enganados (e enganadores) de que podem sonhar grandes sonhos, até para ganhar o mundo, como o colombiano César Castelhanos garantiu aos seus discípulos. Este mesmo afirmou que Deus lhe deu uma promessa semelhante à que havia dado a Abraão: uma descendência (de discípulos) como a areia do mar, como as estrelas do céu.
Ora, a fé de que fala o texto em Hebreus não é a dos anseios e sonhos pessoais; não é a que espera o que parece impossível aos homens, ainda que possível para Deus. Aquela fé ali pontuada é a fé no cumprimento de promessas que Deus deu a todo o seu povo. É disto que falam as palavras antecedentes em Hebreus. São as promessas registradas na Escritura – revelação de Deus para todo o Seu povo, em todos os tempos – que ainda não se cumpriram, que consiste nas coisas que se esperam, nos fatos que se não vêem. No caso particular dos hebreus, eram as promessas do Antigo Testamento, que começavam a se cumprir…
Milagres podem acontecer – e alguns acontecem. Não são a provisão corriqueira de Deus para o Seu povo. São muito extraordinárias. Os que alimentam expectativas de que o extraordinário se transforme em usual incorrem em grande erro. E ainda podem causar dano à fé de muitos neófitos. Muito cuidado! Milagre não é sinal de fé verdadeira… Não é provisão divina corriqueira. Não sejamos incrédulos, mas também não sejamos tolos!
"O Maior Milagre" (It Took a Miracle"), de John W. Peterson (1921-2006), é a nossa mensagem melódica para terminar esta reflexão. Ouça, com nosso..
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Bom Domingo, boa semana,
Ulisses
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional