“Trago o que posso. Uma merenda; trago biscoito, todo tipo de merenda, para ela ficar bem. Trago também água. Não sei como é o sistema aqui. Quero que ela seja bem tratada e nada de ruim aconteça com ela”. O autor destas palavras parece ser um exemplar raro entre os da espécie humana, e a atitude aqui retratada é diária. Seu nome é José Maria, reside em Fortaleza, e está referindo-se à sua [ex]esposa, que está presa na carceragem da Divisão de Homicídios daquela cidade. Qual a razão da prisão? Ter tentado, por duas vezes, matar o próprio José Maria. Pode coçar a cabeça, mas é isto mesmo: o homem visita e dá assistência a [ex]esposa na prisão, mesmo tendo ela duas vezes tentado matá-lo.
A mulher, de 32 anos, cujo nome não foi revelado pela mídia, tentou pela primeira vez matar José Maria em 11 de Setembro último. Ela colocou "chumbinho', um raticida ilegalmente produzido e vendido, em sua alimentação. José Maria passou muito mal, mas se recuperou. Quatro dias depois ela fez o mesmo, aumentando a dosagem. José Maria ficou duas semanas hospitalizado. A família dele desconfiou e acionou a polícia, que efetuou a detenção da mulher. No entanto, recuperado novamente, José Maria vai todos os dias à detenção, e leva lanches para a esposa. Ele diz que testemunhou o arrependimento da mulher, que até o socorreu, depois do que fez… "É certo que ela errou; mas não é com erro que vamos pagar outro". Assim, José Maria dá assistência a quem quase o matou duas vezes, e quer retomar o casamento. "Só não estou dizendo que vou conseguir, porque sou eu contra o mundo. Neste momento eu estou só, porque minha família não aceita; eu perdoo, mas minha família não".
Eu tenho duas perguntas: a primeira – no meio da espécie humana, qual percentual de exemplares do tipo do José Maria costuma existir? Qualquer que seja a tentativa de arriscar resposta, é bastante possível que o percentual seja baixíssimo… Sei que há, mas devem ser algumas raridades. A maioria de nós costuma, por muito menos, guardar repulsas por muito mais tempo. Entre esposos e esposas, por exemplo, a duração da condescendência e do perdão vem se encurtando bastante, nos tempos modernos. A segunda pergunta: no meio da espécie divina, qual o percentual de exemplares de inclinação semelhante? Bem, segundo a diversidade de literaturas, as divindades podem ser fonte de bem e também de mal. De um modo geral, para que se receba o bem das divindades, é preciso prestar-lhes algum favor, alguma oferenda, sacrifício, propiciação. Recebendo do homem uma satisfação, doam, em troca, o bem; em contrapartida, recebendo desapontamento, destinam ao homem o mal. Assim é, no geral, como se concebem as reações das divindades. Entretanto, como são divindades mitológicas, criações humanas, não vão poder entrar em nossa estatística.
Só há um Deus verdadeiro, o Criador de todas as coisas, e também do homem; Ele é o Deus que se revela de modo inteiramente inteligível na Escritura, a Bíblia. E, como é Ele? É totalmente diferente! Primeiro, Ele não espera nenhuma propiciação humana, nenhuma oferenda, nenhum sacrifício humano, para proporcionar perdão e misericórdia; toda oferenda, todo sacrifício e toda propiciação já foi cumprida, aos olhos dEle, pelo Seu próprio Filho, quando se encarnou. Aliás, diferentemente das demais divindades que o homem resolveu cultuar, Ele nem mesmo aceita qualquer oferenda ou sacrifício de favores e propiciação que não seja a do Seu próprio Filho; por isto, para o homem acaba saindo de graça! Além disto, Ele é capaz de dedicar tal tipo de favor não apenas a uma pessoa, mas a multidões. Houve um tempo que, provisoriamente, o favor do Deus verdadeiro era cultivado no meio de uma só nação; hoje, não: em qualquer lugar do mundo, de qualquer etnia, de qualquer raça, de qualquer cor, de qualquer camada social, de qualquer gênero, é possível ser alvo de Suas ternas misericórdias; ele não faz acepção de pessoas. Terceiro: ainda que o José Maria não se disponha a perdoar sua esposa uma terceira vez (duas tentativas de homicídio, até vá lá…), Deus, o Deus verdadeiro vai mais longe; indiscutivelmente mais longe: "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as Suas misericórdias não têm fim: elas se renovam a cada manhã" (Lamentações de Jeremias 3,21,22, ARA). Quarto: o que o José Maria está fazendo pela esposa aprisionada é digno de menção, é fato. Mas, limita-se a esta vida; o perdão de Deus perdura a eternidade inteira.
O testemunho da Escritura é que Deus, o Deus verdadeiro, é complacente, longânimo, até mesmo tolerante. Foi assim, no passado: "Contudo, ele foi misericordioso; perdoou-lhes as maldades e não os destruiu. Vez após vez conteve a sua ira, sem despertá-la totalmente" (Salmos 78:38, NVI). Mas, continua Ele sendo assim, também no presente: "Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniquidade, e que passa por cima da rebelião do restante da sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniquidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar" (Miquéias 7:18,19, ACF). Isto significa perdoar e esquecer…
Há, também, mal que pode advir de Suas mãos? Sim, há. Mas, Ele reserva esta maldição particularmente para um lado da eternidade, enquanto que também reserva bênção e gozo intermináveis para outro lado da eternidade. Enquanto isso, se alguém pergunta – há, ainda, homens como o José Maria? – repito eu a interrogação do profeta: há Deus como este?
Ao final, deixo mais uma bela composição, interpretada pelo Grupo Logos:
ELE ME AMA
Paulo Cézar Silva (1952…)
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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional