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N° 117 : “ONDE ESTÁ A VOSSA FÉ ?”

Ministérios EFRATA – O Bem & o Mal, a Cada Dia
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Na qualidade de mensageiro da Palavra de Deus, foram várias as vezes em que entrei num hospital para efetuar visitas. Enfermarias simples ou apartamentos mais requintados… Unidades do SUS ou unidades particulares… Mesmo em UTI's, não raramente. São muitos casos, armazenados na memória, cujos detalhes até podem estar já se perdendo com o tempo, em função do caráter deletério desse arquivo misterioso que chamamos de "memória". Casos que ensejaram a alegria de familiares, trazendo de volta ao lar seus queridos, ou casos em que a expectativa resultou no inesperado, levando estes ao Lar. Uma das lembranças: Quando o senhor Heitor foi internado, com aquele grave quadro de infecção pulmonar, sua família ficou muito triste. Entretanto, cristãos que eram, puseram-se a fazer o que qualquer cristão faria: buscar a face do Todo-Poderoso. Afinal, não é Ele quem, detendo todo o poder nas mãos, pode curar até com mera palavra oculta de seu mando? Visitei-o, tanto no apartamento, onde podia desfrutar da companhia da família, quanto na UTI, onde predomina a presença dos profissionais de saúde e dos demais casos graves. A igreja de Cristo se aliou à família na intercessão… Uns cristãos chegavam a declarar, "em nome de Jesus ",  que em breve ele estaria restabelecido. Entre duas fases de permanência no apartamento, uma na UTI; ao final, o retorno à terapia intensiva foi seu último ambiente, porque seu corpo não resistiu. Por que Deus não atendeu aos rogos da família e da igreja? Por que Deus não realizou o portento, se portento é com Ele mesmo? Por que não permitiu ao senhor Heitor viver mais?

Após uma semana recheada com circunstâncias diversas a refletir – um caso de precioso livramento num acidente de automóvel, um caso de severa apreensão produzida por fatos inesperados (ainda insolvidos), e mais outros – minha mente revolve várias passagens bíblicas de meu conhecimento. Por exemplos: 
"O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra " (Salmo 37.4, ARA).
"Sê firme e corajoso. Não te atemorizes, não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores." (Josué 1.9, BCF).
"E tudo quanto pedirem em oração, se crerem, vocês receberão" (Mateus 21.22, NVI).
São, todas, passagens que infundem confiança e que reivindicam fé… E, o que é fé?
"Fé é a certeza de coisas que se esperam, e convicção de fatos que não se vêem", socorre-nos a definição sacra e inspirada ao autor de Hebreus (11.1, ARA). Bem, eu sei que estas passagens têm tratamento adequado, e não permitem uma aplicação, genérica ou  particularizada, à vontade do espírito humano, mas não me cabe, aqui e agora, encetar este tratamento.

Uma passagem, em especial, foi alvo de minhas reflexões maiores. Está em três evangelhos sinóticos, mas escolho, preliminarmente, o registro de Lucas: 
"Num daqueles dias ele subiu com os seus discípulos a uma barca. Disse ele: Passemos à outra margem do lago. E eles partiram. Durante a travessia, Jesus adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento sobre o lago. A barca enchia-se de água, e eles se achavam em perigo. Aproximaram-se dele então e o despertaram com este grito: Mestre, Mestre! Nós estamos perecendo! Levantou-se ele e ordenou aos ventos e à fúria da água que se acalmassem; e se acalmaram e logo veio a bonança. Perguntou-lhes, então: Onde está a vossa fé? Eles, cheios de respeito e de profunda admiração, diziam uns aos outros: Quem é este, a quem os ventos e o mar obedecem?" (Lucas 9.22-25, BCF).
Um leitor pouco treinado nas profundezas da Escritura poderia arriscar palpites equivocados sobre o significado da pergunta de Jesus.

Naquela circunstância, o que seria a fé a se esperar deles? Confiar que o barco, tendo Jesus dentro dele, jamais iria soçobrar? Ou deveria ser a confiança de que, soçobrando, salvar-se-iam todos? Ou ainda, quem sabe, confiar que seria a tempestade estancada de repente, tal como aconteceu? Sumiu-lhes a fé, diagnosticou o Soberano Mestre e Redentor.

Considero aqui a definição de fé em Hebreus. Não me é dado espaço e tempo, no corpo desta singela mensagem, para desenvolver as provas do que vou asseverar, mas fa-lo-ei assim mesmo. Em hipótese alguma as "coisas que se esperam" e "fatos que não se vêem", naquele ensinamento, devem ser entendidos sob a ótica primária das expectativas humanas, dos seus sonhos, das suas aspirações. Não se permite, aqui, abrigar uma espécie de "fé" determinante, no sentido de que o desejo do coração se cumpre conforme a força mental confie que se cumprirá, ou seja, lá de que outra natureza for tal força. Não se trata de positivismo. Ao contrário, como ensina todo o contexto da passagem, "coisas que se esperam" e "fatos que não se vêem" se relacionam a promessas de Deus, feitas aos seus ancestrais (isto é, postas em Sua Palavra), que ainda não se haviam cumprido. Com fé, eles podiam se assegurar de que, mesmo parecendo demorado, Deus cumpriria tais promessas, que eram de natureza redentiva e histórica, mas não de natureza existencial e pessoal. Posto isto, não me parece lícito assumir uma espécie de "fé", sendo esta afastada do tom da Escritura, que almeja algo, acalenta no coração e na mente, e se exercita numa força interna e mística tal que, conforme o seu vigor, alcança o que espera. Deus não seria soberano, como é, se tal fosse verdade. "Ah! Eu tenho fé que Deus vai me dar aquele carro, aquela casa, aquele emprego, vida ao meu filho, levar-me seguro ao outro lado do mundo  – e de volta…". Se não der, se não fizer, sucumbe a fé, porque era falsa. Sendo assim, faz-se ainda mais pertinente o ensino complementar pelo apóstolo :
"Eia, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos. Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece. Em lugar disto, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo. Mas, agora, vos gloriais em vossas presunções; toda glória tal como esta é maligna." (Tiago 4.13-16, ARC).

Visto desse ângulo, arrisco-me a dizer que a repreensão de Jesus deveria ser entendida, naquele dia e, quiçá, lida e entendida hoje, com sentido mais abrangente. "Onde está a vossa fé?", questionou o Senhor. Sabedores de que estavam com o Filho de Deus, o Autor e Consumador da fé e da salvação, poderiam, sim, usufruir o livramento, mediante a fé, se Ele o quisesse; lado outro, se Ele não o quisesse, e viesse a sobreviver sozinho, naufragando os discípulos, o livramento seria usufruído por estes de um modo diferente, glorioso, redentivo, definitivo, eternal, também sob a égide da genuína fé – alias, uma do tipo mais sublime. Porque, "preciosa é, aos olhos do Senhor, a morte dos Seus santos " (Salmo 116.15, ARA). Quando Deus livra, quando Deus cura, quando Deus arranca portentosamente de um hospital, quando Deus proporciona o que parece impossível, certamente há meios para robustecimento da fé. E, quando não o faz – porque, soberano é – a mais autêntica fé repousa em confiança de que o Senhor sabe o que faz, de que Seu maior e mais augusto galardão é a vida eterna, de que o maior dos livramentos é a transferência deste mundo vil para a glória do Cordeiro de Deus! Mesmo contra todas as tendências peculiares (e viciadas) da pobre natureza humana !!! Onde Está a Vossa Fé? – continua o Mestre a perguntar-nos…

O hino que hoje ofereço é mais um dos preciosos. Seu autor era oficial dos confederados na Guerra Civil norte-americana, tendo chegado à patente de major. Em batalha foi ferido gravemente, perdendo um dos braços, e sendo levado prisioneiro. No hospital, recuperando-se lentamente, um dia procurou algo para ler; achou um Novo Testamento. Tornou-se este uma leitura diária sua. Dias mais tarde, estava um jovem moribundo no mesmo hospital, e chamaram El Nathan, pseudônimo com o qual ficou conhecido, para orar com o jovem. Ele se recusou, dizendo não ser cristão, e o mensageiro se espantou:
– Me admiro; achei que você era um cristão, pois te vejo sempre lendo uma Bíblia…

Whittle, então, sem saber como faria, resolveu ir até o outro leito e recinto. Ao chegar, conta ele assim a sequência:
– Eu me ajoelhei ao lado daquela cama e tomei a mão daquele  jovem nas minhas. Com palavras contritas e alquebradas, confessei a Deus meus vis pecados e pedi a Cristo o seu perdão. Depois, intercedi fervorosamente por aquele jovem, enquanto ele apertava com a sua a minha mão. Pareceu-me com clareza que ele tomava como suas as minhas palavras. Quando me levantei, notei seu último suspiro, seguindo-se uma feição serena em sua face. Não posso me esquecer de que Deus o usou para fazer-me chegar definitivamente ao Salvador, enquanto usou a mim para levá-lo a confiar no precioso sangue vertido e encontrar perdão. Espero encontrá-lo no Paraíso.
Depois de sair do hospital, dedicou-se a contar as boas-novas da salvação e a compor hinos. Phillip Bliss, James McGranahan e até sua filha, May Moody, tornaram-se seus parceiros, musicando suas composições. Uma delas, a de hoje, na qual se apropria de uma das declarações do apóstolo Paulo, retratando uma faceta de sua vida na poesia…
 "Porque sei em quem tenho crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar o meu 'tesouro' até o dia final." (II Tim 1.12)

I KNOW WHOM I HAVE BELIEVED, 1883
Eu Sei em Quem Tenho Crido
Daniel Webster Whittle (1840-1901)
Música de James McGranahan (1840-1907)

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Boa semana, até próximo Domingo, se Deus quiser (Tg 4.15) !
Ulisses

Notas das citações bíblicas:
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
ACRF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional