Domingo, 27 de Setembro de 2015
“AVATAR” é uma palavra da cultura hindu, que ficou mundialmente famosa na produção cinematográfica de James Cameron: um ser híbrido de homem e alienígena, habitante do distante planeta Pandora. Na cultura hindu, provém de “avatara”, do sânscrito, que significa descida. Conecta-se a “Aval”, “aquele que descende de Deus”. São supostos seres que manifestam, fisicamente, formas da divindade. Mas, recentemente, a palavra adotou um significado adaptado à modernidade. Há quem já a esteja usando para designar criações digitais (do tipo “robôs cibernéticos”), para ‘eternizar’ seres humanos. É isto mesmo que você ouviu (quer dizer, leu): avatares, de você, de seus pais, de seus amigos, de seus filhos, para ficarem por aqui, quando os originais partirem… Como se os demais que ficarem por aqui estivessem interagindo com você, com seus pais, com seus amigos, com seus filhos… Não será fantástico?
Um grupo norte-americano, ligado ao renomado MIT (Massachussets Institute of Technology), lançou, recentemente, o programa tecnológico “Eter9”, divulgado no portal “Eterni.me”. Eis o seu apelo público:
“Quem quer viver para sempre?…Todos nós morremos, cedo ou tarde…
E se… você pudesse viver para sempre, como um avatar digital?…
Seja virtualmente imortal!”
Com o novo serviço, caro leitor, passará a ser possível armazenar uma quantidade de dados do seu perfil pessoal, e criar seu avatar, para depois de sua morte. A intenção é que as pessoas que ficarem por aqui possam interagir com o seu avatar, como se estivessem interagindo com você mesmo. Você, eterno, que tal? Pronto! Mais um avanço estupendo da tecnologia humana, para superar o insuperável – a morte!
O programa ainda não se tornou publicamente disponível, mas já há milhares na fila… Mas as redes sociais já estão se mobilizando para alimentar o banco de dados que vai criar avatares. Não é fantástico? Opa: deixa eu mudar de palavra, para não parecer merchandise… Não é formidável? (Esta é muito antiga, não é?). Já pensou? Onde você estará, onde estará sua alma, até à Ressurreição Final, onde estará você, depois da ressurreição do Dia do Juízo Final, por toda a eternidade de verdade, não importa: VOCÊ estará aqui, eternizado em boas lembranças (ou não), no seu avatar. Haverá uma quantidade de seguidores interagindo com você, isto é, com seu avatar. Você pode fazer um novo tipo de testamento, definindo, em vida, quem vai administrar seu avatar. Você vai até pensar que vai ficar tranquilo, quando partir, porque sua partida não vai doer tanto nos que ficarem… Mas, talvez, depois de partir, você até fique com ciúmes do seu avatar: o pessoal vai gostar tanto dele, que nem vai sentir falta do original, que é você…
Especulações à parte, pergunto: até onde vai chegando a sandice high-tech? Até onde vai chegando a tolice tecnológica que explora a tolice (outro tipo) da boa-fé das pessoas? Bem! Já que vai, mesmo, existir, começo a pensar num avatar para mim… E já vou logo considerando a lembrança de um antigo pregador, que hoje ouvi pela boca do porta-voz angolano Sebastião Chiquete: Este lembrou o pregador, que disse mais ou menos assim – “Seria bom que cada um de nós, ainda que não se destinasse ao inferno, passasse pelo menos meia hora no inferno, antes de terminar a jornada da vida. Assim, seríamos mais eficazes em prevenir pessoas, para não ir para aquele terrível lugar”.
Jesus falou de um hipotético cidadão que, morrendo, foi levado ao lugar dos mortos. De lá, lugar também chamado de inferno, rogou ele, a respeito de outro falecido, chamado Lázaro: “Pois eu te rogo, Pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, que não suceda virem eles também parar a este lugar de tormentos” (Lucas 16.27,28, BCF). Já estou aqui pensando: milhares, milhões de avatares, advertindo os vivos de aqui, quanto aos horrores eternos do inferno. Não, isto não ocorrerá: os avatares do Eterni-me só falarão das lembranças de aqui. Se falarem de horrores, serão desta vida, que nem se comparam às do inferno. Além do mais, Jesus fechou a questão, quando disse: “Têm eles Moisés e os profetas; ouçam-nos!” (Lucas 16.28, ARC). O cidadão, na ilustrativa história, ainda teria arriscado: “Não, Pai Abraão: se alguém dentre os mortos fosse ter com eles, eles se arrependeriam” (Lucas 16.30, NVI). Jesus, que menciona “Moisés e os profetas” como uma sinédoque de toda a Escritura, arremata, para fim de conversa: “Se não ouvem Moisés e os profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lucas 16.31, ARA).
Pensando bem, vou deixar essa história de avatares para os parvos, para os tolos. Quanto aos queridos, bastam-me as lembranças, as suas obras, que os acompanham (Apocalipse 14.13); quando muito, fotos. Fico com a palavra de Jesus, fico com Moisés e os profetas, fico com a Palavra de Deus! E mais: quero que meus filhos, e meus netos, e quantas gerações eventualmente vierem, fiquem também…
Ira Sankey e Stephen Collins Foster puseram música num belíssimo poema de Fanny Jane Crosby, que hoje conclui nossa reflexão. A poetisa, que ficou cega ainda na primeira infância, foi alguém com incomparável sensibilidade na expressão musical das verdades celestes. Foram mais de 8000 hinos e poesias. “Depois de morta, ainda fala…”
THE HOMELAND SHORE (1890)
DA LINDA PÁTRIA
Francês [Fanny] Jane Crosby (1820-1915)
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Abraços, boa semana !
Ulisses
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional