Domingo, 1 de Novembro de 2015
André Spínola é consultor de negócios do SEBRAE, o serviço brasileiro de apoio à micro e pequena empresa do país. Recentemente ele deu um depoimento a certa revista que explora exatamente o incentivo a pequenas empresas como ‘grandes negócios’. No depoimento, Spínola afirmou que há alguns negócios que avultam suas boas oportunidades em cenários de crises. Um deles é o de reformas, do setor de construção civil: “Com a crise, as pessoas querem consertar mais”. Foi esta a sua justificativa, ao afirmar que “empresas especializadas em serviços de manutenção, reparos e reformas estão em alta”, num cenário em que a construção de imóveis novos é negócio em decadência.
Isto me faz lembrar que foi num cenário de crise que surgiu um certo monge agostiniano, no século XVI, a pregar reforma na igreja. Seu nome era Martinho Lutero (1483-1546). Herege para alguns, reformador para outros, o certo é que o mundo mudou muito, ao ensejo dos acontecimentos que se postaram em torno do seu movimento. E, o nome que se deu ao movimento – Reforma – se relaciona ao fato de que nenhum dos seus melhores expoentes desejava, rigorosamente, ruptura com a igreja do seu tempo. Desejavam, outrossim, isto mesmo – reforma. E agora, a dois anos de se completarem cinco séculos daquele evento, volto o olhar de lá, para cá…
O mundo está em crise, profunda crise. O Estado Islâmico avança em suas atrocidades (acabo de saber que reivindica ter abatido um avião comercial com 224 vidas); as tensões entre os Estados Unidos e países da Ásia (Rússia, China e Coréia do Norte, especialmente) se aprofundam, metendo medo nos demais países. O Brasil está em crise – e que crise! Parece um beco sem saída, um buraco sem fundo (e tem gente querendo por cortina no beco, tampa de papel de seda no buraco). As famílias estão em crise; seus fundamentos, seus pilares, estremecem assustadoramente. Cristãos estão em crise; cinco séculos atrás havia boas razões para Lutero, Calvino, Zuínglio, Bucer lutarem pelos valores de uma reforma. Hoje, dentro do próprio segmento que se diz herdeiro da Reforma há profundas necessidades de reformas. É a crise de identidade, de caráter, de integridade, de coerência, de consistência, de testemunho, que se alastra por entre os que, provavelmente, vão passar este final de semana celebrando a Reforma. Não é preciso ir muito longe, chegando fora das fronteiras dos que se identificam pelo cristianismo evangélico (ou, “reformado”, usando adjetivo de lastro histórico), para se constatar a crise, e a demanda de uma restauração de reforma: dentro dessas fronteiras já se vê suficiente.
O ‘cristianismo’ que deixa de ser nitidamente identificado com Cristo, com seus valores éticos, com a doutrina dos apóstolos por ele incumbidos, com a mais genuína interpretação e aplicação da Palavra de Deus, e passa a se assemelhar aos valores do mundo secular, precisa, de novo, de reforma. É tempo de crise! O cristianismo que copia métodos, estratégias, comportamentos, do paganismo, do materialismo, do secularismo, precisa urgentemente de reforma. É tempo de crise! Não estou falando do cristianismo que está do outro lado do quarteirão, ou no outro bairro, ou do outro lado da cidade, do país ou do mundo. Estou falando da necessidade de auto-avaliação: minha e sua, que me lê (eventualmente). “Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que achará ele alguma fé na terra?” (Lucas 18.8, BCF).
A ética que Jesus ensinou no Sermão do Monte parece poesia a muitos cristãos (evangélicos inclusos) dos dias de hoje… Oh! Que bonito isto! – poderão dizer (“longe de mim”, não raro hão de pensar). A doutrina de compromisso, de seriedade, de dedicação, de integridade, de testemunho verdadeiro, ensinada por Paulo, Pedro, João e companhia, é lida, é ouvida, é pregada… Que doutrina perfeita! – dirão muitos (“não para mim, para os outros”, que levou muitos a se tornarem modelos de cristianismo (entre os apóstolos e até depois deles), é mera lembrança utópica, num campo majoritário – o cristianismo de ‘araque’ de hoje. “…Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mateus 5.20, ARA). Precisamos de reforma; os tempos são de crise! E, apropriando-me (por empréstimo) da afirmação do André Spínola (ainda que fora do seu contexto), tempos de crise são muito propícias para manutenção, reparos e reformas!
No início da década de setenta, surgiu no Brasil o grupo Vencedores Por Cristo. Ente suas primeiras interpretações, uma significativa composição, que fala quão só ficou Jesus, no caminho da cruz, e no Gólgota. Trata-se de uma pertinente mensagem, digna de reflexão, em tempos de crise, que resgatamos ao final desta mensagem. Ouça, com nosso áudio player online.
NOBODY WANTED HIM (1969)
Ninguém o Quis
Jack William Hayford (1934 – …)
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Boa semana,
Ulisses (Tg 4.13-15)
Notas das citações bíblicas:
ACF – Edição bíblica de Almeida, Corrigida e Revisada Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana
ARA – Edição bíblica de Almeida, Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil
ARC – Edição bíblica de Almeida, Revista e Corrigida, da Sociedade Bíblica do Brasil
BCF – Bíblia Católica de Figueiredo, www.bibliacatolica.com.br
NVI – Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional